Fundos de pensão querem mais tempo para cobrir
déficit de 2020 e 2021.
Apesar do resultado
negativo, planos de estatais descartam novas cobranças extras
A forte oscilação das Bolsas e a disparada
da inflação nos dois anos sob pandemia afetaram também o resultado dos fundos
de pensão, que viram piorar seus balanços contábeis e, agora, querem do governo
um prazo maior para cobrir o déficit nas contas de 2020 e 2021.
A Abrapp
(Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar)
apresentou a proposta à Previc em dezembro e deve voltar a discutir o assunto
em reunião do CNPC (Conselho Nacional de Previdência Completar) nesta semana.
"Tivemos uma
situação atípica em 2020 e 2021. Fazer esse plano de ajuste em 2022 pode levar
a uma venda desnecessária de ativos e isso não seria bom.
Nossa proposta é discutir em 2023 e 2024, quando
esperamos que a situação já tenha melhorado."
O adiantamento
poderá evitar a necessidade de planos de equacionamento mais agressivos, como
aqueles que incluem cobranças extraordinárias em aposentadorias e salários.
Para milhares de
aposentados e pensionistas dos maiores planos ligados a estatais, a mera
perspectiva de novas cobranças é motivo de tensão.
Atualmente,
trabalhadores da ativa, aposentados e pensionistas de Postalis, dos Correios,
Petros, da Petrobras, e Funcef, da Caixa, já têm mensalmente descontos em seus
benefícios e salários para cobrir rombos passados.
O balanço de 2021
dos 618 planos das 232 entidades representadas pela Abrapp só será fechado no
fim de março, mas deverá ficar negativo.
Até outubro, dado mais recente, 327
planos de 128 fundos estavam com déficit.
Juntos, os fundos
administram R$ 1,125 trilhão em ativos distribuídos em investimentos diversos.
Quem banca essas operações são os 7,9 milhões de participantes. Por ano, cerca
de R$ 70 bilhões são pagos em aposentadorias a 800 mil beneficiários.
CINCO
PERGUNTAS SOBRE OS FUNDOS DE ESTATAIS
Por que tenho um desconto em minha
aposentadoria paga por um fundo de pensão?
Porque o plano que paga sua aposentadoria teve déficit em algum momento nos
últimos anos. Desde 2015, a regulação dos fundos de previdência complementar
fechada prevê que o déficit seja solucionado no ano seguinte.
Por quanto tempo o desconto será
feito?
Isso depende de cada plano de equacionamento, nome dado às operações para zerar
o déficit. Os participantes dos planos precisam ser informados da duração das
cobranças.
Existe algum limite para esses
descontos?
Não. Pode chegar a 50% do benefício, por exemplo. Essas contribuições extras,
porém, são aprovadas em planos que precisam ser discutidos com os
participantes.
O desconto é o único meio de quitar o
déficit?
Não. As entidades que administram os planos têm autonomia para tomar outras
medidas, como rever investimentos, vender ativos e reduzir benefícios. Nem
sempre o plano de equacionamento de déficit resulta em contribuição
extraordinária
Consigo barrar ou limitar o
abatimento?
Associações de servidores das estatais têm diversas ações judiciais para barrar
as contribuições extras. Há ainda processos cobrando responsabilização de
gestores envolvidos em gestão temerária ou fraudulenta. Entretanto, não há
garantia de vitória.
FOLHA DE SÃO PAULO