Jorge Paulo Lemann diz que crise deve ser enfrentada com calma e
inovação
Para bilionário, situação imposta
pela pandemia durará 'mais do que muitos imaginam'.
O empresário Jorge Pauo Lemann, 80,
afirmou no último sábado (9) que a atual crise econômica, provocada pela pandemia de coronavírus, deve ser enfrentada
com calma e com capacidade de adaptação.
Para o bilionário fundador da 3G
Capital, a atual crise "será mais longa do que a maioria pensa".
Acionista da AB Inbev e da Kraft Heinz, Lemann participou, por vídeo conferência, da
Brazil Conference at Harvard & MIT. O empresário afirmou que passou por ao
menos 11 crises ao longo de sua carreira.
"Minha
família era relativamente rica porque tinha plantações de cacau, mas veio uma
doença e as destruiu nos anos 1960.
Depois, o primeiro grupo do qual eu fiz
parte no mercado financeiro era formado por egressos da Harvard Business
School. Eu pensava que eles eram ótimos, mas quebramos em três anos. Eu tinha
26 anos."
O empresário mencionou também que
passou por uma grande crise no mercado de ações logo que começou a operar, em
1971, e que descobriu sérios problemas no coração aos 54 anos.
"Eu pensava que era o cara mais
saudável do mundo e de repente tive de ficar um ano fora de ação na cama. Tive
que me ajustar a isso e aprender a lidar com a vida de maneira diferente",
disse.
"Sempre enfrentei com calma [as
crises]. Acho que esta crise, embora pareça que será mais longa do que a
maioria pensa, derá um desenlace. Fique calmo, se adapte, inove a maneira de
pensar, descubre novas formas de agir, mas continue.
Se você continuar, vai
saber como sair da crise", afirmou durante a conferência.
Ao comentar a compra da cervejeira
SAB Miller, realizada em 2015, Lemann afirmou que pagou mais do que o ativo
valia.
"Fomos um pouco ambiciosos
demais cinco anos atrás, ao fazer uma grande compra, a da SAB Miller. Nós
pagamos caro por aquilo e isso também tirou o nosso foco do negócio para lidar
com novas coisas, com uma nova companhia.
Isso dificultou as coisas um pouco,
mas estamos consertando isso.Ter de lidar com esse problema nas atuais circunstâncias,
com o vírus, faz as coisas um pouco mais difíceis, mas estamos
confiantes."
- Escritórios
na Faria Lima esvaziam, e empresas discutem como será o retorno
Companhias descobrem que dá para ter
trabalho remoto sem perder produtividade.
Os grandes e espelhados prédios de
escritórios são uma espécie de símbolo da cidade de São Paulo. Mas esse ícone
da capital está abandonado nesse momento em que os funcionários estão trabalhando de casa.
A quarentena para conter o avanço do
coronavírus diminuiu o intenso vai e vem de regiões como a da av. Faria Lima
(zona oeste de São Paulo), frequentemente caracterizada por abrigar 1% do PIB
do país e ter um dos custos mais altos da cidade, com aluguéis negociados por
R$ 150 a R$ 180 o m².
“Antes da pandemia a região
apresentava taxas de vacância baixíssimas e valores de aluguéis com incremento
real”, diz Claudia Baggio, sócia da consultoria Deloitte.
Com as medidas de isolamento, as empresas tiveram que
se adequar ao novo cenário e a maioria precisou acelerar o processo que
possibilita o home office.
“Algumas empresas já vinham adotando
flexibilidade na jornada de trabalho, mas isso era visto como uma política de
benefício pela qual uma ou duas vezes por semana permitiam que os empregados
escolhessem se queriam fazer a jornada alguns dias de casa ou não”, diz Carol
Marchi, sócia da área trabalhista do escritório de advocacia Machado Meyer.
Ela afirma que as empresas viam o
home office mais como um benefício para seus funcionários, sem haver uma
discussão sobre possíveis custos com fornecimento de equipamentos como
computadores, roteadores e cadeiras.
"Na reforma trabalhista também
foi previsto um contrato chamado teletrabalho. A diferença é que o home office
é uma flexibilização, enquanto o teletrabalho é um contrato com um acordo entre
as partes.
Começa a entrar a questão de custo, de controle de jornada",
diz a advogada.
Com a pandemia, o governo editou uma
série de medidas provisórias que ajudaram a flexibilizar relações trabalhistas,
incluindo o home office, mas com caráter emergencial.
- Google
levou 4 dias para pôr seus mil funcionários no Brasil em home office
Presidente da empresa afirma que não
há plano para o retorno, mas diz que não será como antes
O Google levou apenas quatro dias
para operacionalizar o home office dos mil funcionários da empresa no
Brasil para manter o isolamento social para combater a pandemia do
novo coronavírus.
Segundo o presidente do Google no
país, Fábio Coelho, a companhia já possuía ferramentas para trabalhar de
qualquer lugar.
“Mas sempre estimulamos as pessoas a irem para o escritório,
que é um ambiente de troca de ideias”, diz.
Agora, Coelho afirma que ainda não
existe um plano para o retorno, mas que as coisas não podem mais ser como eram
antes.
Como será a volta do Google?
Vamos voltar com cuidado. Não queremos especular sobre a volta, não tem data
para isso. Podemos aprender com a experiência dos outros países para poder nos
antecipar, mas ainda não temos um plano de retorno.
Tem que ser cuidadosa, seguindo todos
os protocolos sanitários de maneira mais abrangente e mais dura.
Com certeza não se volta para o que
era antes. O momento coloca uma reflexão sobre como a gente trabalha.
Podemos
ter dias da semana que só mulheres podem sair, horários que só pessoas de certa
idade podem sair. São discussões que estão ocorrendo ao redor do mundo.
As
coisas não podem ser como eram antes. Não podemos pegar transporte público
lotado, até porque não é necessário.
FOLHA DE SÃO PAULO