Crianças e adolescentes farão parte de geração mais
desigual por causa da pandemia.
Economista
brasileiro e ganhador do Nobel criticam fechamento de escolas em benefício de
outros setores.
Crianças e
adolescentes vão arcar com os maiores custos gerados pela pandemia, incluindo a
perda de aprendizado que reduzirá seus salários e a dívida deixada pela crise
atual. Também farão parte daquilo que já está sendo chamado de geração mais
desigual.
De acordo com o
economista e professor titular da Cátedra Instituto Ayrton Senna, do
Insper, Ricardo Paes de Barros, a perda com educação
remota durante a pandemia foi de quase 20%, em média, e levará essa geração a
uma redução de rendimentos futuros equivalentes da 9% do PIB (Produto Interno
Bruto) em valores atuais.
Barros afirma que
essa perda de aprendizado pode ser compensada nos próximos anos, mas preocupa o
fato de, até o momento, não haver nenhuma política pública nesse sentido.
“A conclusão é que
o custo da pandemia será essencialmente suportado pelas novas gerações, as
crianças de hoje”, afirmou o economista durante o evento “Uma pandemia de desigualdade: perspectivas críticas do
Brasil e dos EUA”, realizado pelo Brazil LAB, da Universidade de
Princeton (EUA).
Ele lembrou que,
durante a pandemia, gestores públicos priorizaram, por exemplo, a abertura de
bares e restaurantes e mantiveram escolas fechadas por praticamente todo o ano
passado. Também não apresentaram uma política de compensação por isso.
“É uma nova geração
que, se não fizermos nada, e não estamos fazendo, terá uma renda mais baixa, um
nível maior de desigualdade e uma dívida para pagar.
O Brasil está
naturalizando esse grande problema de educação.”
Outro participante
do debate, o vencedor do Nobel de Economia de 2015, Angus Deaton,
disse que esse não é um problema apenas do Brasil. Ele citou a Índia, outra
grande economia emergente que também manteve escolas fechadas.
“Poderíamos ter
feito melhor, por todas as crianças, especialmente por aquelas mais pobres, e
vamos pagar um preço por isso por muitos e muitos anos.
A Índia é um exemplo
até pior que o Brasil.”
Deaton apresentou
dados que mostram o crescimento da riqueza apropriada pela população com ensino
superior nos Estados Unidos nos últimos 30 anos, de 50% para quase 75%.
O
número já vinha subindo desde os anos 1990, ganhou força após a crise de 2008 e
acelerou ainda mais com o início da pandemia.
FOLHA DE SÃO PAULO