Desvalorização de 10% do real levará inflação a 5% em 2019, afirma banco


Dólar forte encarece, matérias-primas que precisam ser importadas pela indústria.

Uma desvalorização de 10% do real no próximo ano pode levar a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para 5%, aponta levantamento do Credit Suisse.

O estudo busca prever os efeitos de um real mais fraco sobre os preços, o que é conhecido pelos economistas como "pass-through".

Embora o impacto não seja claramente perceptível pelo consumidor comum, um dólar mais forte encarece, por exemplo, matérias-primas que precisam ser importadas pela indústria —o que acaba pressionando os preços.

O tamanho do repasse do câmbio para a inflação varia conforme o tempo e também o ritmo da atividade econômica.

Segundo a equipe do Credit Suisse, em condições normais, esse efeito é considerável: a cada 10% de desvalorização cambial, 0,7 ponto percentual é adicionado à inflação.

Mas como a economia brasileira está saindo de um período de recessão e passando por um ciclo de retomada que ocorre a passos lentos, esse repasse cambial à inflação não é desprezível, mas é menor.

No ambiente atual, de crescimento baixo e desemprego alto, uma desvalorização de 10% do real adicionaria 0,44 ponto percentual à inflação de 2019, diz Lucas Vilela, economista do Credit Suisse.

O crucial nessa equação, explica o economista, é a elevada ociosidade das empresas. Em um quadro de demanda mais fraca, a necessidade de importar da indústria, por exemplo, pode ser menor.

Como a inflação esperada para 2019 pelo Credit Suisse está em 4,5%, o efeito a levaria para perto de 5% —acima do centro da meta estabelecida pelo Banco Central, de 4,25% no próximo ano, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Por enquanto, esse não é o cenário central do banco, que espera um dólar médio de R$ 3,65 em 2019.

Embora as projeções dos economistas para inflação tenham acelerado para algo ao redor de 4% como consequência da paralisação dos caminhoneiros, o nível ainda é considerado confortável.

De qualquer forma, o sinal de alerta em relação a pressões inflacionárias está aceso, com ao menos dois importantes eventos com fôlego para mexer com o câmbio: o período pré-eleitoral e os respingos de uma guerra comercial entre EUA e China.

Vilela prevê uma forte elevação da taxa Selic no próximo ano —dos atuais 6,5% para 9,5% no fim de 2019-- como forma de evitar uma inflação maior a partir de 2020.



FOLHA DE SÃO PAULO
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