O fundo de pensão dos funcionários da Caixa (Funcef) registrou
perdas de R$ 534 milhões com o investimento que fez na JBS, o maior frigorífico
do País, dono da marca Friboi. Ao fim do ano passado, o fundo decidiu vender as
ações que tinha na companhia e, por isso, foi possível apurar exatamente o
retorno do investimento, feito em 2008. O rendimento do JBS para o fundo, ao
longo dos anos, não conseguiu cobrir a chamada meta atuarial (a rentabilidade
mínima necessária para cobrir os gastos com os planos de previdência) e, por
isso, os beneficiários e a empresa patrocinadora, no caso a Caixa, terão de
dividir o prejuízo.
Segundo o balancete referente a novembro de 2016, enviado aos
participantes do fundo e ao qual o Estado teve acesso, entre o dia 17 de abril
de 2008, quando foi feito o investimento, até o dia 6 de dezembro de 2016, data
da venda total das ações da JBS, a rentabilidade foi de 65,79%, um pouco abaixo
da inflação do período, de cerca de 70%. A meta atuarial total do período foi,
no entanto, de 180,48%. Com isso, a diferença entre meta e rendimento auferido
foi de “114,69 pontos porcentuais, ou 69,18% em termos efetivos, equivalente a
R$ 534 milhões”, diz o balancete.
Essa meta atuarial é estabelecida por órgãos reguladores para
todos os fundos de pensão e é definida com base em estatísticas que consideram
com quanto será necessário contribuir - e por quanto tempo - para que um
trabalhador tenha a aposentadoria garantida. A partir da definição da
contribuição, é calculado um rendimento mínimo necessário para que, no final,
haja dinheiro para todo mundo. Em média, por ano, esses fundos precisam render
a inflação mais 6%. Se não render, o fundo gera um déficit que, segundo as
regras do órgão fiscalizador, chamado Previc, precisa ser rateado entre os
beneficiários e a empresa patrocinadora.
O déficit nem sempre significa que o fundo teve uma perda
financeira, apenas que terá de se ajustar ao rendimento da meta atuarial.
Quando, no entanto, o fundo se desfaz de um investimento, o déficit passa a ser
uma perda efetiva.
A Funcef informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não
falará sobre o assunto, por ser uma questão sigilosa. Segundo fontes próximas à
direção do fundo, o assunto se tornou confidencial porque está sendo feita uma
verificação minuciosa para certificar se houve algum tipo de negligência. As
apurações querem averiguar se tanto o investimento inicial quanto a venda foram
feitos com base em laudos de avaliação justos. Além disso, está sendo apurado
se foi justa a troca de ações do fundo que era usado como veículo de
investimento para ações diretas da JBS.
O investimento inicial na empresa se deu por meio de um fundo de
investimentos em participações chamado PROT, que tinha por objetivo exclusivo
investir na JBS. Os balanços da Funcef de 2008 e 2009 não informam quanto
exatamente foi investido, segundo técnicos da Federação Nacional das
Associações de Pessoal da Caixa (Fenae), que reclamam da falta de transparência
de informações do fundo de pensão.
Dados compilados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em um
processo administrativo contra o BNDES, que também foi sócio do PROT e é um dos
principais acionistas da JBS, informam que o investimento total no PROT foi de
R$ 1,4 bilhão. Deste total, o BNDES era o principal cotista, com 45%. Os fundos
de pensão Petros e Funcef investiram 25% cada (cerca de R$ 375 milhões cada um).
O PROT foi encerrado dois anos depois, quando suas cotas foram transformadas em
ações da JBS.
O outro ponto averiguado é sobre a decisão de venda das ações no ano
passado. As regras da Funcef permitem que o diretor responsável tome a decisão
de vender sem precisar do aval do restante da diretoria. Como o JBS acabou
gerando uma perda, o questionamento que se faz é se a decisão foi tomada com
base em laudos corretos.
Portal Estadão