Quanto talento é desperdiçado no Brasil?
Segundo o Banco
Mundial, ao menos metade das crianças brasileiras com 10 anos de idade não
consegue ler e compreender.
Não pode ser pouco.
Afinal, de acordo com o Banco Mundial, ao menos metade das crianças brasileiras com 10 anos de
idade não conseguirá ler e compreender este parágrafo –este que você logo vai
acabar.
Além disso, por volta de quatro em cada dez alunos do nono ano não
adquirem conhecimentos básicos de matemática, como frações e divisões.
Sem o
básico, é fundamental sabermos quanto talento realmente desperdiçamos.
O Relatório de
Capital Humano Brasileiro do Banco Mundial se lança neste debate e ressalta a
importância de investimentos nas pessoas.
Como seria se todas as crianças
tivessem a oportunidade de desfrutar de educação e saúde de qualidade? Quanto
capital humano uma criança brasileira deixa de obter ao longo de sua vida?
Um
novo velho debate que vai e volta à medida que a brisa muda de direção.
Capital Humano é isso: o conjunto
de habilidades desenvolvidas e acumuladas ao longo da vida.
O ICH (Índice de
Capital Humano) procura materializar essa ideia. O ICH compacta nutrição infantil, risco de mortalidade, educação e saúde, em um único
número que mede a produtividade futura.
Futura? Sim.
Diferentemente de outros
indicadores, sua interpretação é prospectiva: se uma criança brasileira nascida
em 2019 desfrutar, ao longo da vida, das mesmas condições de saúde e educação
que tinha ao nascer, sua produtividade potencial será de 60% aos 18 anos de
idade.
O índice de capital humano de hoje é uma fotografia da produtividade de
amanhã.
Mas o Brasil é um continente de desigualdades.
O que é 40% de
talento desperdiçado na média chega a 50%, ou até 60%, entre crianças das
regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Já afrodescendentes e indígenas alcançam,
respectivamente, apenas 56% e 52% do seu capital humano total, em face de 63%
entre crianças brancas.
É uma desigualdade dentro da outra. Todavia, talvez o
resultado mais claro do Relatório se refere ao desperdício de talento feminino.
FOLHA DE SÃO PAULO