O Brasil, país dos coroas.
Já se sabia que o Brasil vinha se transformando em
país de idosos.
O que não se sabia era que o processo de envelhecimento da
população estava sendo tão rápido, como acaba de ser revelado pelo Censo 2022.
Em 2022,
nada menos que 10,9% da população tinha mais de 65 anos. Cerca de 12 anos
antes, eram apenas 7,4%.
Também em 2022, passaram a ser 55 idosos para cada
grupo de 100 crianças. Em 2010, eram apenas 30 idosos para cada 100 crianças.
Não é apenas estatística fria. Traz importantes
consequências para a economia e para a política.
Os economistas olham para
essas informações e fazem severa advertência: o Brasil está perdendo o bônus
demográfico, que é a capacidade de produção de uma população predominantemente
ativa.
Quanto mais velho é um agrupamento de pessoas, maior dificuldade terá
para garantir a produtividade do trabalho.
Pessoas idosas estão mais para
desfrutar de aposentadoria e para irradiar a sabedoria esperada com a experiência
adquirida, do que para enfrentar o batente com força física e mental.
O próprio conceito de idoso, que já vem mudando,
pode mudar ainda mais - e rapidamente.
Há alguns anos, com 40 anos as pessoas
já eram tidas como coroas e passavam para a categoria dos “enta”. Hoje, sobre
quem morre aos 70 já se começa a ouvir: “Como morreu jovem!.”
Isso não é tudo. Com o crescimento das camadas
denominadas de “melhor idade”, muda também a natureza das políticas públicas.
Como dito em outra oportunidade nesta Coluna, será preciso criar mais espaços
de acolhimento e melhorar a infraestrutura das cidades para garantir a
mobilidade e bem-estar para essa faixa da população.
Se é para garantir prioridade para atendimento de
todos os idosos, as tais “prioridades de lei” deixarão de ser exceção, como são
hoje.
Passarão a ser tratamento destinado a segmentos cada vez mais numerosos.
Isso vai exigir desde mais vagas para estacionamento em parques e garagens,
como para assentos especiais no metrô e nos ônibus urbanos.
Ou então, a altura
do sarrafo para dar direito a esse tipo de desfrute terá de subir dos 60 ou 65
anos para 70 ou 75.
O sistema produtivo e a construção civil terão de oferecer
mais facilidades e produtos destinados a essa população.
Em política de saúde, muda o foco. Deixam de ser as
doenças infecciosas e passam a ser as doenças degenerativas e a prevenção.
É
situação que tende a aumentar os custos dos tratamentos de saúde, tanto do
setor privado como do SUS.
E há ainda uma encrenca pela frente com o desequilíbrio do orçamento
da Previdência em País com menos jovens e mais idosos.
Muito provavelmente, o impacto maior não recairá
sobre as coisas da economia, mas sobre a política propriamente dita.
Uma
população de cabeças brancas - ou talvez nem tanto - tende a reforçar o voto
conservador, seja o que isso possa vir a significar a cada conjuntura.
O ESTADO DE SÃO PAULO