Os fundos de pensão vivem um dilema. Desvincular a imagem da indústria como um todo dos fundos ligados às estatais, que, além de serem investigados pelo Ministério Público e pela Polícia Federal por suspeita de desvio de verba, são questionados sobre a qualidade e vulnerabilidade na gestão de seus recursos.
Trata-se de fundos com alta exposição à renda variável, investimentos estruturados e em imóveis. Alguns compraram ativos de empresas que quebraram ou não têm sido lucrativas e carregam déficits bilionários em carteira. Casos da Petros (dos funcionários da Petrobras), Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Postalis (Correios). Juntos, representam quase 40% da indústria, que tem mais de 260 entidades.
Em meio a uma enxurrada de críticas, a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp) reagiu e lançou em setembro um código de autorregulação em governança de investimentos, uma semana após a PF ter deflagrado a Operação Greenfield, que investiga desvios de até R$ 8 bilhões em investimentos feitos pelos quatro fundos estatais.
"Tivemos casos de desvios de conduta e esperamos que sejam esclarecidos pelo MP e pela PF e os culpados, punidos. Mas eles são exceção. Não são a regra", garante José Ribeiro Pena Neto, presidente da entidade, que representa uma indústria cujo total de ativos atingiu R$ 763 bilhões em junho, um crescimento de 6,2% no ano. Neste período, o déficit das entidades também cresceu de R$ 77 bilhões para R$ 84 bilhões.
Com relação às perdas dos últimos dois anos, Neto diz que o correto é avaliar o desempenho do conjunto da indústria no longo prazo, e que ele bate os principais indicadores tanto de renda fixa (CDI) quanto variável (Ibovespa).
Conforme cálculos da entidade, de 2002 para cá, enquanto os rendimentos dos fundos de pensão avançaram 634,84%, o CDI rentabilizou 519,74% e o Ibovespa, 279,67%. "Com a economia real indo mal nos últimos anos, claro que os efeitos foram resultados negativos. A própria Bolsa só começou a melhorar seu desempenho recentemente", observa Neto. Cerca de 72% da carteira do setor estão alocados em renda fixa - enquanto os fundos das estatais direcionam cerca de 50% nesses ativos.
Nos últimos meses, três dos quatro grandes fundos estatais trocaram seus gestores em resposta à Operação Greenfield. Se por um lado as mudanças trouxeram profissionais considerados mais qualificados e comprometidos com a transparência e maior controle de risco nos investimentos, por outro, ainda carregam suspeitas de estar vinculadas a indicações políticas.
Com exceção de Walter Mendes, que era do conselho de administração da Petrobras e assumiu em agosto a presidência da Petros. A entidade administra R$ 67,67 bilhões entre os dois fundos que possui e fechou 2015 com um déficit de R$ 23 bilhões. Mendes notou muitos pontos frágeis, além de falhas na estrutura de governança e de controle de risco.
"O fundo não tinha política sólida nem de investimentos e nem de desinvestimento." Todos os processos estão sendo remodelados, passando pelas áreas de risco, governança, investimentos, auditoria e ouvidoria.
A exposição à renda variável de seu fundo mais antigo e maduro, com R$ 53 bilhões, deve diminuir. Hoje, 27,88% da carteira está em ações. Eram 30,54% ao final de 2015 e de 37,53% em 2014.
Apesar do retrovisor ruim, Mendes diz que a meta atuarial será cumprida este ano. A Petros registrou rentabilidade de 7,89% no acumulado de janeiro a junho, acima da meta de 7,35%.
Um dos mais atingidos pela operação Greenfield, o Funcef teve há pouco mais de um mês a presidência e duas diretorias trocadas - a de investimentos e de participação societária e de imóveis. Agora caberá a Carlos Antônio Vieira Fernandes e uma nova equipe administrar um patrimônio líquido R$ 57,35 bilhões e reverter o déficit de R$ 8,1 bilhões. "Criamos uma nova política de investimento para reduzir a exposição a risco, mitigar a questão futura do equacionamento e criar planejamento estratégico e transparência nos resultados", afirma Fernandes.