Pessimismo para de aumentar, mas índices de
satisfação estão perto das mínimas. Faz quatro anos, o Brasil tem medo e é infeliz como nunca,
pelo menos no último quarto de século, por aí.
O Índice de
Satisfação com a Vida (ISV), por exemplo, nunca foi tão baixo por tanto tempo
desde que o Ibope começou a fazer tal pesquisa para a Confederação Nacional da
Indústria, em 1996. O Índice de Medo do Desemprego flutua nos níveis mais
altos em 20 anos desde o início de 2015.
O prestígio de Jair Bolsonaro está em patamar neutro (nível
equivalente de notas “ótimo” e “péssimo”), mas fraco para um presidente em
início do mandato, segundo as pesquisas CNI-Ibope. Supera os desastres de
popularidade de Dilma 2 e de Michel Temer, mas equivale ao de Dilma 1 depois do
colapso de junho de 2013, ao de Lula 1 no pior do mensalão e ao de fins de FHC,
em 2002, desgastado por oito anos de mandato, pela desvalorização do real
e pelo apagão.
O ISV e o Índice
de Medo do Desemprego (IMD), também da CNI-Ibope, e outras medidas de
satisfação pessoal, política e econômica deram uma melhorada depois da
eleição, como costuma ocorrer depois do voto. Em fevereiro, o desânimo voltou a
aumentar. Entre os mais pobres, o medo do desemprego e a satisfação com a
vida não se moveram das profundezas a que desceram na recessão. Há uma
notável disparidade de classe.
A confiança empresarial e dos consumidores medida pela FGV parou de piorar em
junho, mas vai tão mal quanto no início de 2018. A ansiedade é maior entre micro e pequeno empresários da indústria,
segundo pesquisa Datafolha para o sindicato paulista do setor, o Simpi.
Em junho de 2018, 76% desses empresários acreditavam que a “crise ainda é
forte, afeta muito os negócios, e não dá para prever quando a economia vai
voltar a crescer”.
Com a eleição, o ânimo melhorou. Os pessimistas eram apenas 32% em
fevereiro. Em maio, voltavam a ser espantosos 64%. A expectativa de demissões
voltou a crescer. Sacolejo semelhante de
opinião também ocorreu no mercado financeiro.
É sempre difícil cravar motivos da piora de ânimos, mas houve notícias que
costumam abalar esperanças.
Tumulto no noticiário político tende a aumentar o pessimismo econômico;
não faltou balbúrdia no Planalto. Alta do preço dos alimentos abala a
avaliação do governo e a confiança; houve uma carestia de comida, devida
ao tempo ruim.
A polarização odienta, para o que contribui o governo de extrema direita de
Bolsonaro, afasta simpatizantes, para dizer o menos. Enfim, além da promessa de
aumento do Bolsa Família, o governo
nada disse aos mais pobres.
A esperança no recém-eleito sustentou o prestígio de Lula 1 no ano ainda ruim
de 2003.
A reeleição elevou até mesmo o prestígio de Dilma Rousseff a um patamar mais alto que o de Bolsonaro agora em junho. A avaliação da
presidente logo sofreu um colapso com o estelionato eleitoral, o que derrubou
os ânimos nacionais para os níveis deprimidos que vemos desde então.
É possível que a economia deixe de piorar a partir deste terceiro trimestre. A
provável queda dos juros e a reforma da Previdência podem animar o terço mais
rico da população, mais pelo efeito “noticiário positivo”. É muito
pouco para alimentar esperanças.
A balbúrdia política é imprevisível, pois o
governo não se pauta pela razão ou pela política de agregação. Pode mudar, caso
não se prenda à permanente campanha eleitoral com o objetivo de manter um terço
do eleitorado agitado com factoides extremistas. Não parece provável.
Vinicius Torres Freire, jornal FSP