Os sucessivos recordes batidos pela Bolsa
brasileira desde 2017 não carregam indícios de formação de bolha no país, na
avaliação de analistas, mas exigem que o investidor tenha cuidado ao entrar no
mercado e sangue-frio para tolerar eventuais baixas.
Desde setembro do ano passado, foram 14 recordes
nominais -o mais recente, na segunda passada (8), quando o Ibovespa, índice das
ações mais negociadas da Bolsa, atingiu 79.378 pontos, em sua 11ª alta seguida.
A forte valorização não é fenômeno local. Nos
Estados Unidos e na Europa, os principais índices acionários vêm de um ano
igualmente arrasador: os americanos Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq estão em
seus maiores patamares.
O mesmo ocorre com o britânico FTSE-100. Já o
alemão DAX atingiu sua máxima em novembro do ano passado, enquanto o índice da
Bolsa de Paris se aproxima de seu nível histórico mais elevado.
A conjuntura bastou para que alguns economistas
começassem a alardear que esses mercados estariam passando pela formação de uma
bolha, quando os preços de ativos sobem muito rapidamente e para patamares
considerados descolados do valor "justo" desse produto.
Jeremy Grantham, da gestora GMO, uma das maiores do
mundo, é uma dessas vozes. Ele é conhecido por ter identificado a formação de
uma bolha no mercado de crédito imobiliário nos EUA, no que deu origem à crise financeira
de 2008.
Segundo Grantham, é de 50% a probabilidade de os
mercados passarem por uma aceleração motivada por euforia dos investidores nos
próximos seis meses a dois anos. Se isso acontecer, as chances de um
"derretimento" serão da ordem de 90% –e os mercados poderão cair à
metade.
VALE ENTRAR?
Para quem pensa em comprar ações na Bolsa, a
recomendação é não olhar o ganho recente, afirma Marcia Dessen, diretora da
associação Planejar e colunista da Folha. "Quando tomamos a decisão
de investir, devemos olhar a rentabilidade potencial futura", diz.
Neste ano, a variável política ainda deve ser
colocada na conta. "Se suas projeções forem otimistas e se você está
decidido a investir, aplique uma pequena porcentagem da carteira total, cerca
de 10%", recomenda.
O investidor precisa também ter tolerância às
oscilações. Depois das 11 altas, o Ibovespa caiu por dois dias.
FSP