Dados do instituto de pesquisas Gallup, que publica um Relatório
da Felicidade com 143 países, apontaram em 2024 um aumento na
diferença entre a felicidade sentida pelos mais jovens e aquela percebida pelos
mais velhos , incluindo o Brasil e os EUA.
O estudo chega a apontar que pessoas com menos de 30 anos estão passando
antecipadamente pelo equivalente a uma "crise de meia-idade",
especialmente no mundo Ocidental.
Para Daniel Duque, do FGV Ibre,
problemas sociais e econômicos nos países podem estar por trás do pessimismo na
juventude, que enfrenta um mercado de trabalho mais difícil para os entrantes.
Já a palestrante e consultora Renata Rivetti atribui a insatisfação a
uma não descoberta de outras variáveis que contribuem para a felicidade, além
dos prazeres momentâneos e individuais.
"A juventude tem focado muito numa
busca rápida de dopamina. Então, a gente quer alegria instantânea, a gente quer
satisfazer os nossos prazeres", diz a especialista.
Ela acrescenta que "a juventude busca muito a vida através do
celular e das redes sociais e vive uma crise mesmo da solidão e de
propósito."
Nos EUA, por exemplo, um relatório sobre a "epidemia de
solidão" mostrou que o tempo que os jovens passam com os amigos foi
reduzido em 70% nas últimas duas décadas.
E tudo isso contrasta enormemente com o que diz um levantamento de
agora, a pesquisa inédita Ipsos Happiness Index 2025, que
entrevistou quase 24 mil pessoas com até 75 anos em 30 países, e aponta os 60
anos como a idade mais provável de se ter uma virada no nível de satisfação com
a vida.
Os resultados corroboram com a chamada "curva em U" que
costuma aparecer em índices que medem a felicidade da população no mundo. Isso
é: começamos a vida adulta mais felizes, ficamos mais insatisfeitos à medida
que envelhecemos, mas voltamos a ser mais felizes ao nos tornarmos idosos.
"Você chega aos 60 hoje em dia muito diferente do que você chegava 30 anos
atrás", diz o estatístico Rafael Lindemeyer, diretor de clientes na Ipsos.
Nos corredores e no palco da Cúpula Mundial da Felicidade (Wohasu),
encontro de especialista no assunto que aconteceu neste mês de março, em Miami,
nos EUA, os palestrantes insistiram que a felicidade está principalmente
relacionada a uma "vida com sentido", relata Renata Rivetti, após
participar do evento.
E esse sentido é mais encontrado em sua
plenitude após superada a chamada "crise da meia-idade", após os 40
anos, diz a especialista.
Quando a gente chega numa maturidade, a gente começa a encontrar o que
de fato faz a gente feliz, começa a ter clareza do que a gente é, não quer mais
impressionar tanto os outros e cria mais senso de pertencimento e de
conexão."
Na resposta à pergunta "você diz que está: muito feliz, feliz, não
muito feliz ou nada feliz?" feita pela Ipsos, 75% dos maiores de 60
responderam que está muito feliz ou feliz, sete pontos percentuais a mais do
que as pessoas na faixa dos 50 e três pontos a mais do que os na casa dos 20.
Estudos no Reino Unido com mais de 300 mil pessoas também já apontaram
que o grupo acima dos 65 é o mais feliz. Há um declínio nessa satisfação,
porém, após os 80.
Para os especialistas, há algo mais a considerar : para o jovem a
felicidade é um sentimento mais individual, enquanto para o mais maduro o
sentir-se bem tem a ver em dose maior com as pessoas em volta, por exemplo, o
ambiente familiar.
O que não chega a ser uma constatação tranquilizadora,
considerando que as famílias estão diminuindo de tamanho.
Já outra fonte trazia ontem (20) o gerontólogo Alexandre Kalache, um dos
maiores especialistas do País em envelhecimento, se referindo ao neologismo
gerontodolescente, que combina as palavras gerontologia com adolescente :
"é uma fase da vida em que as pessoas estão livres dos filhos e
desobrigadas de lutar para dar certo".
É uma etapa da vida que começa,
segundo ele, aos 55 anos, e que pode ser vivida de forma muito prazerosa.
PREVDIGEST