Entenda por que a caderneta de
poupança ainda é a aplicação mais popular.
Resgates
da poupança em 2023 são historicamente altos, mas eles devem subir ainda mais.
Segundo o Banco Central, até o dia o dia 22 de agosto, a
caderneta de poupança já sofreu R$ 84,4 bilhões de resgates líquidos neste ano,
ou seja, captação menos resgates.
O volume de recursos aplicados na caderneta é
de R$ 963 bilhões. Para colocar em perspectiva, esse volume é 8 vezes maior que
todo o investimento em títulos do Tesouro Nacional distribuídos a pessoas
físicas na plataforma do Tesouro Direto.
Discuto se esse volume sinaliza que
ela é mais vantajosa?
Podemos
avaliar um investimento seguindo três critérios básicos: retorno, risco e
liquidez. Vamos começar com retorno.
A
poupança tem retorno de TR+0,5% caso a Selic esteja acima de 8,5% ao ano e
retorno de 70% da taxa Selic Meta caso ela esteja abaixo de 8,5% ao ano.
Os
70% de retorno sobre a taxa Selic é o máximo proporcional a esta taxa que a
poupança vai render.
A medida em que a Selic sobe, o percentual cai. Portanto,
a caderneta rende hoje menos.
Sabemos
que a caderneta é isenta de IR. Então, vamos comparar os retornos líquidos da
tributação.
Mesmo
considerando a alíquota máxima de IR que é de 22,5% para renda fixa, a poupança
ainda tem retorno pior que o de um título público federal como o Tesouro Selic.
Líquido
de IR, o Tesouro Selic renderia mais de 10% ao ano. Enquanto a Poupança fica
próxima de 8% ao ano neste momento. Lembrar que é possível aplicar em CDBs,
LCIs e LCAs rendendo até mais.
Portanto,
a poupança é muito desvantajosa em termos de retorno.
Com
relação ao risco, a caderneta de poupança tem risco bancário similar ao de um
CDB, LCI ou LCA. Todos eles contam com a garantia do FGC que é uma entidade
privada.
O
risco é baixíssimo se você investe dentro do limite do FGC. Entretanto,
atenção, se seu investimento superar o limite desta garantia e o banco quebrar,
você perde os recursos investidos.
Um
título público como o Tesouro Selic é ainda menos arriscado, pois o Tesouro
Nacional, por ser a única entidade capaz de gerar moeda, tem capacidade
"infinita" de pagamento de sua dívida interna.
A
oscilação dos preços de títulos como Tesouro Selic é muito baixa, assim como os
de CDBs, LCIs e LCAs.
Logo,
a poupança perde em retorno e no melhor dos casos se iguala em termos de risco
com outros instrumentos como CDBs, LCIs e LCAs.
Por
fim, no critério liquidez, a poupança também é desvantajosa. Embora seja
possível resgatar a qualquer momento, se o investidor saca fora da data do
aniversário, ele perde retorno.
Isso
não acontece em aplicações como o Tesouro Selic e CDBs LCIs e LCAs com liquidez
diária.
Portanto,
a poupança perde em todos os critérios para avaliação de um instrumento.
Se
ela é tão ruim, por que ainda existe quase R$ 1 trilhão em aplicações?
A
única explicação para a popularidade da poupança é a falta de conhecimento de
investidores.
Os
resgates da poupança em 2023 são historicamente altos, mas eles devem subir
ainda mais a medida que os aplicadores vão entendendo sobre as alternativas de
investimentos.
Os
maiores beneficiados deste desconhecimento são os grandes bancos que se
aproveitam deste recurso barato para ter mais lucro em suas próprias
aplicações.
Já
ouvi muitos afirmando que preferiam a poupança e não aplicariam em CDBs, fundos
e outros para não dar dinheiro para os bancos.
Entretanto, pode ter certeza de
que o investidor dá muito mais dinheiro para os bancos, aplicando na poupança.
FOLHA DE SÃO PAULO