Os primeiros três meses de Lula 3.
Está difícil não
ser pessimista com os rumos da economia.
O governo apenas
começou, o que torna inferências cabais sobre o que será o Lula 3 um exercício
temeroso.
Mas até aqui está com jeito de que não vai ser bom no quesito economia.
Fernando Haddad e
Simone Tebet –nomes fortes da área econômica– conversam e conversaram com
técnicos muito bem preparados e sempre se colocaram de modo mais equilibrado
sobre temas da economia.
Antes de assumir o ministério, Haddad buscou para
auxiliares nomes de excelência no mundo acadêmico, mas teve dificuldade para
recrutá-los.
Por sua vez, Simone Tebet escolheu para conselheira econômica
durante a campanha eleitoral Elena Landau, economista ortodoxa, com larga
experiência executiva.
Assim que, quando das nomeações –e mesmo um pouco
depois–, a coisa não parecia tão ruim.
Mas aí começaram as
falas irresponsáveis do presidente da República e de líderes do governo e os
vacilos da Fazenda.
Nas últimas semanas os ataques ao Banco Central atingiram patamares preocupantes.
Pressão não
apenas para revisar a meta de inflação para cima (apesar de sermos contra,
vemos espaço para essa discussão, ainda que certamente não nesse momento), mas
uma grita direta para que o Banco Central iniciasse já a derrubada das taxas de
juros.
Apenas para contextualizar, a inflação de preços livres fechou o ano de
2022 perto de 10%, e as expectativas de inflação para 2023 encontram-se na casa
de 6%.
Com esses números, é virtualmente incabível o argumento de que a
política monetária está tresloucada, como vem insistindo Lula e vários de seus
lugares-tenentes.
O presidente do país está atacando uma instituição de Estado
do seu próprio país.
Em outro flanco de ataque, o presidente Lula promete usar
o BNDES para contrabalançar a política de juros altos do Banco Central.
Isso remete ao uso temoroso do banco durante as gestões petistas
(principalmente Lula 2 e Dilma 1), caracterizadas por aumento na ineficiência
da economia, diminuição na competição, piora distributiva e perda de potência
da política monetária.
Um dos maiores progressos institucionais dos últimos
seis anos tem a ver com o remodelamento do BNDES, que deixou de usar o dinheiro
mal remunerado do trabalhador para dar crédito barato para empresários.
Julgando pelos primeiros cem dias, está difícil não ser
pessimista com os rumos da economia.
FOLHA DE SÃO PAULO