As dificuldades brasileiras se
inserem num drama maior que é a péssima distribuição da renda - tema de artigo
da jornalista Maria Clara do Prado. Nota ela que quando assumir a
Presidência da República, em 1º de janeiro de 2019, Jair Bolsonaro passará a
governar um país com renda bruta e PIB per capita, em dólares correntes,
inferiores aos de 2010. Também a poupança bruta, que já era baixa, caiu ainda
mais, do nível de 18% do PIB em 2010/2011 para 14,5% do PIB em 2017, segundo
dados do Banco Mundial.
A renda continua concentrada.
Mais da metade, 56,1%, é repartida entre os 20% do espectro mais alto. Sobram
43,9% da renda para serem divididos entre os demais brasileiros. Bolsonaro vai
herdar um país que insiste em desprezar as vantagens de ter um grande e
atrativo mercado interno, chamariz para investimentos e garantia de
desenvolvimento consolidado, para benefício de um grupo de pessoas que, além de
absorver a maior parte da renda, tem acesso a outros privilégios. Ao contrário
do PIB, que pode variar para mais ou para menos em função de fatores sazonais,
o padrão da distribuição da renda brasileira, forjado ao longo de séculos, é
crônico. Está presente em praticamente todos os setores da atividade econômica
e social do país. Na saúde, na educação, nas condições sanitárias e de habitação,
e na previdência social.
Neste país, ao contrário de
outros, é muitíssimo mais vantajoso ser funcionário público do que empregado em
empresa privada. Não há dúvida de que os desequilíbrios da previdência
social precisam ser enfrentados o mais rapidamente possível, na busca de
soluções duradouras, a começar pela reforma do sistema de previdência do
funcionalismo público. É caro, discrepante e injusto. A raiz do problema
está, claro, na elevada remuneração dos servidores públicos.
Um estudo do FMI, realizado por
Izabela Karpowicz e Mauricio Soto, mostra que a despesa com pessoal no
Judiciário brasileiro é uma das mais altas do mundo, comparável à da Suíça.
"O salário médio no Poder Judiciário é cinco vezes mais alto do que a média
de salários do setor público e nove vezes mais alto do que a média salarial do
setor privado", diz o estudo "Rightsizing Brazil's Public-Sector Wage
Bill" (Dimensionando a conta do salário no setor público do Brasil),
publicado em outubro. Entre abril de 2004 e dezembro de 2015, os salários
públicos em geral, no país, cresceram ao redor de 45% em termos reais, em
média, enquanto que os salários do setor privado aumentaram em cerca de 25% em
termos reais. Às implicações no perfil dos gastos da previdência social,
soma-se a distorção na formação de preços do mercado de trabalho, além dos
efeitos sobre a produtividade da economia brasileira.
VALOR ECONÔMICO