O Brasil
é um dos poucos países
com um plano estratégico nacional
para implementar políticas para o investimento de impacto, um sinal "top-down" de que o país começa
a amadurecer para assumir a liderança latino-americana nos aportes em negócios sociais.
A afirmação é do indiano
Amit Bhatia, CEO do Global
Steering Group (GSG),
grupo que coordena
o movimento global e que está em São Paulo para participar do II Fórum de Finanças
Sociais e Negócio
de Impacto, em São Paulo.
"Estou aqui para aprender
[mais sobre o ambiente de investimento brasileiro], mas pelo que já sei o movimento na América Latina será liderado
por Brasil e México - e não por causa do tamanho
desses países, mas devido ao mercado mais desenvolvido, a presença de fundos grandes,
empresas, pela própria
natureza global do país."
Bathia passou
o dia ontem em encontros privados com fundos,
bancos estatais e representantes do setor financeiro em conversas para atualizar executivos sobre o mercado
global de impacto.
Ouviu e falou mais ainda
ao alto escalão de Petros (fundo de pensão da Petrobras), Pátria,
Itaú e BNDES. O executivo
tem se empenhado em modelar
um fundo de fundos de impacto na América Latina,
tal como em outros países,
com a ambição de chegar
a US$ 1 bilhão. Daqui, segue para o Chile e Cidade
do Panamá.
"A Índia, por exemplo,
é um país menor que o Brasil em vários sentidos e, no entanto,
vai conseguir dois fundos de impacto social de US$ 1 bilhão
cada nos próximos
18 meses. O mesmo tem acontecido na África. Então, acho que ainda há muito para crescer e se aprofundar aqui. A região
está pronta para conseguir seu primeiro grande
projeto", disse Bathia,
ao Valor.
O Brasil
tem menos de R$ 200 milhões destinados a investimentos de impacto, apesar
das deficiências básicas
à sociedade. Globalmente, esses investimentos atingiram US$ 150 bilhões.
Em três anos devem chegar
a US$ 300 bilhões. "O
mercado de impacto
é muito pequeno se olharmos
para o setor financeiro global,
de trilhões de dólares em gestão de ativos. Ainda não há escala, mas acreditamos que teremos o ponto de virada ao fim de 2020."
Diferentemente da filantropia, o investimento de impacto prevê mudanças estruturas à sociedade com foco em resultado financeiro.
Nesse sentido, segundo
ele, os fundos têm respondido à altura da expectativa de acionistas. "Um
estudo realizado pela McKinsey mostra
que, entre 2010 e 2016, foram realizados na Índia 50 saídas de empresas de impacto que haviam recebido
US$ 4,5 bilhões
- com um retorno de 11%. Grandes
fundos apresentaram retorno
médio de 6,9%. Os menores, com menos de US$ 1 milhão,
tiveram retorno de 9%. Dessas 50, um terço gerou retorno médio de 30% ao investidor.
Ou seja: impacto
gera lucro", destacou.
Segundo Bhatia,
o movimento "top-down" tem contribuído com o setor. A França,
por exemplo, tornou
mandatório que todos os fundos de pensão
sejam "solidários" - ou seja, destinem de 5% a 10% para negócios de impacto. O Reino unido fez um decreto sobre
o que é uma empresa
social. Muitos outros
países estão criando
fundos soberanos com investimento em impacto. "Até
private equity está indo nessa direção. Quando
grandes fundos começarem
a falar o nosso vocabulário, será uma questão
de tempo até o investimento de impacto se tornar mainstream."
Por Bettina
Barros
VALOR ECÔNOMICO