Atenção e carinho estão para a alegria da
alma, como o ar que respiramos está para a saúde do corpo. Artigo de Ana
Fraiman, psicóloga social.
Nestas últimas décadas surgiu uma geração de
pais sem filhos presentes, por força de uma cultura de independência e
autonomia levada ao extremo, que impacta negativamente no modo de vida de toda
a família. Muitos filhos adultos ficam irritados por precisarem acompanhar os
pais idosos ao médico, aos laboratórios. Irritam-se pelo seu andar mais lento e
suas dificuldades de se organizar no tempo, sua incapacidade crescente de serem
ágeis nos gestos e decisões
A ordem era essa: em
busca de melhores oportunidades, vinham para as cidades os filhos mais
crescidos e não necessariamente os mais fortes, que logo traziam seus irmãos,
que logo traziam seus pais e moravam todos sob um mesmo teto, até que a vida e
o trabalho duro e honesto lhes propiciassem melhores condições.
Este senhor, com olhos sonhadores, rememorava
com saudade os tempos em que cavavam buracos nas terras e ali dormiam, cheios
de sonho que lhes fortalecia os músculos cansados. Não importava dormir ao
relento. Cediam ao cansaço sob a luz das estrelas e das esperanças.
A evasão dos mais jovens em busca de recursos
de sobrevivência e de desenvolvimento, sempre ocorreu. Trabalho, estudos, fugas
das guerras e perseguições, a seca e a fome brutal, desde que o mundo é mundo
pressionou os jovens a abandonarem o lar paterno. Também os jovens fugiram da
violência e brutalidade de seus pais ignorantes e de mau gênio.
Nada disso, porém, era vivido como abandono:
era rompimento nos casos mais drásticos. Era separação vivida como intervalo,
breve ou tornado definitivo, caso a vida não lhes concedesse condição futura de
reencontro, de reunião.
Revista Pazes