TELEAULA


Em tempos de pandemia, escolas do mundo todo redescobrem a teleaula.

Regiões pobres, onde o acesso à internet é falho ou inexistente, investem nas aulas pela TV.

Em uma favela num morro de Lima, no Peru, o dia escolar de Delia Huamani não começa com a agitação dos colegas, mas com a luz trêmula de uma televisão. 

Com as escolas físicas fechadas por tempo indeterminado, a menina assiste em casa às aulas da nova coleção de programas educacionais feitos no país.

Como substituto, está longe de ser perfeito. Delia, 10, diz que seus pais não podem comprar livros. 

Ela sente falta de ler sobre animais na biblioteca escolar, e não tem ninguém para verificar seu trabalho. 

Ela se apoia em sua amiga Katy Bautista, 12, que gostaria de pedir aos apresentadores de televisão que diminuíssem a velocidade nas aulas difíceis.

"Quando vamos pegar comida no refeitório, conversamos e explicamos as coisas uma para a outra", disse Delia sobre Katy.

Apesar de todas as limitações, a escolarização pela televisão tem uma enorme vantagem para Delia, Katy e muitas outras do 1 bilhão de crianças em todo o mundo que estão excluídas das escolas pela pandemia do coronavírus: consegue chegar até elas.

Em países ricos, os debates sobre como oferecer educação remotamente têm se concentrado em tornar as aulas online envolventes e interativas. 

Mas essa conversa é pura fantasia para muitos estudantes do mundo, incluindo milhões em países ricos, que não têm conexões de banda larga ou computadores.

Depois de décadas perdendo a importância diante do grande investimento em aprendizagem pela internet, a televisão educacional está novamente tendo seu momento.

 Educadores e governos do mundo todo, desesperados para evitar um revés duradouro para uma geração de crianças, estão utilizando a tecnologia mais antiga.

E estão recorrendo ao charme e ao glamour de atores e apresentadores de noticiários localmente conhecidos, bem como de professores, para tentar prender a atenção de alunos da pré-escola ao ensino médio. 

Eles dizem que estão seguindo a lição fundamental da era do YouTube —quanto mais curto e atraente, melhor.

"O ideal seria ter laptops e todas essas coisas sofisticadas em casa", disse Raissa Fabregas, professora de economia e relações públicas na Universidade do Texas em Austin, que estudou televisão educacional no México. 

"Mas se você não os tiver, isto é melhor que nada."

Embora as aulas de televisão não sejam tão valiosas quanto as interações online com professores e outros alunos, dizem os especialistas, as transmissões educacionais pagam dividendos para o progresso acadêmico das crianças, seu sucesso no mercado de trabalho e até mesmo seu desenvolvimento social.

Para tornar as aulas menos passivas e mais eficazes, muitas aulas transmitidas hoje usam as ferramentas de estúdios profissionais, como cenários atraentes, roteiristas, animação 3D, gravação com várias câmeras, gráficos e até aplicativos de smartphone relacionados.



FOLHA DE SÃO PAULO
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