Em carta a Milei, ganhadores do Nobel dizem que ciência argentina 'se
aproxima do precipício'.
Texto assinado por 68 cientistas pede que
presidente volte atrás nos cortes a ensino e pesquisa.
Em uma carta endereçada nesta quarta (6) ao
presidente Javier Milei, 68 ganhadores do Prêmio Nobel afirmam que a ciência argentina "se aproxima de um
perigoso precipício" e pedem que o novo mandatário volte atrás em cortes
orçamentários a instituições de ensino e pesquisa do país.
"Escrevemos com respeito e profunda
preocupação. Observamos como o sistema argentino de ciência e tecnologia se
aproxima de um perigoso precipício, e nos desencorajam as consequências que
esta situação poderia ter tanto para o povo argentino quanto para o
mundo", escrevem eles.
Carregando uma motosserra como símbolo de campanha,
Milei aposta num profundo corte de gastos para equilibrar as contas públicas,
parar de emitir dinheiro e frear a altíssima inflação argentina em alguns
meses. Segundo ele próprio, já foram demitidos 50 mil servidores e retirados
programas sociais de 200 mil pessoas.
No texto de duas páginas, os cientistas dizem ver
com preocupação a eliminação do Ministério da Ciência e Tecnologia —que foi excluído junto com metade das pastas e
agora está dentro da Chefia de Gabinete de Ministros—, assim como o
desligamento de funcionários administrativos de instituições pelo país.
"Tememos que a Argentina esteja abandonando seus
cientistas, estudantes e futuros líderes da ciência.
Nos preocupa que a
dramática desvalorização dos orçamentos do Conicet [Conselho Nacional de
Pesquisas Científicas e Técnica] e das universidades nacionais reflita não
apenas uma dramática desvalorização da ciência argentina, mas também uma
desvalorização do povo argentino", dizem.
Os pesquisadores listam grandes feitos da ciência
argentina a Milei: "Se não fosse pela ciência e pelos cientistas
argentinos, as causas e o tratamento do câncer, diabetes e doenças
cardiovasculares teriam continuado sendo um mistério por décadas a mais [...].
O mundo ignoraria como os Andes foram formados e a incrível fauna que habitou o
continente há milhões de anos".
Citam que foi o único país da região que
desenvolveu sua própria vacina contra a Covid-19, que construiu e lançou
satélites de comunicações e construiu reatores nucleares de última geração que,
além de terem sido exportados, gerarão um suprimento interno de equipamentos de
radiação cruciais para uso médico.
"A Argentina ocupa o décimo lugar no mundo em
número de empresas de biotecnologia, um feito notável que promete grandes
avanços em medicina e agricultura.
Usando engenharia genética, um grupo
financiado com fundos públicos desenvolveu variantes genéticas de trigo
bem-sucedidas que são resistentes à seca", enumeram.
Por último, os cientistas pedem que Milei
restabeleça os orçamentos cortados.
"Congelar os programas de pesquisa e
diminuir o número de estudantes de doutorado e de pesquisadores jovens
provocará a destruição de um sistema que levou muitos anos para ser construído,
e que exigiria muitos, muitos mais para ser reconstruído", afirmam.
FOLHA DE SÃO PAULO