“Este vai
ser mais um ano difícil para os planos de autogestão em saúde”. A previsão é do
Diretor da Abrapp, Luiz Carlos Cotta, e entre os fundos de pensão preocupa
particularmente aqueles 34 que atuam na área e que vêm repetidamente convivendo
com aumento de custos superiores e, não raro, do dobro da inflação no período.
Os últimos números disponíveis reforçam a gravidade da situação: o
IPCA-Saúde atingiu 11,05% no ano passado, enquanto o FIPE-Saúde subiu a
11,66%, contra os 6,29% registrado pelo IPCA.
No
entender de Cotta, a solução está cada vez mais em as entidades que
administram planos de saúde no modelo de autogestão se unirem entre si.
Uma união que deve ser acentuada não apenas em busca de ganhar força nas
negociações com os fornecedores, como fruto da escala obtida, mas também e
principalmente para se tornarem mais fortes diante do governo e o convencerem
de que a vertente da saúde suplementar que opera sem visar lucro não pode ser
tratada da mesma forma, ficar submetida às mesmas regras, da outra que atua comercialmente.
Razões
fáceis de entender - As razões pelas quais as duas não devem ser
tratadas da mesma forma são fáceis de entender. Rogério Carlos Lamim
Braz, Coordenador da Comissão Técnica Nacional de Planos de Autogestão em Saúde
Unidas-Abrapp e diretor-superintendente da Eletros Saúde, da Fundação
Eletrobrás de Seguridade Social, explica: os planos de autogestão, por atuarem
associados às empresas que os patrocinam, estão obrigados a aceitar todos os
seus funcionários e ex-trabalhadores, independentemente do componente etário e
do local do País em que se encontrem, ao contrário das operadoras de planos
comerciais, que na prática podem selecionar os seus clientes no mercado e
compensar os mais idosos pelo ingresso de mais jovens.
As
estatísticas não deixam margem a dúvidas quanto ao significado disso. Os planos
de autogestão em saúde exibem um percentual muito maior de idosos.
Carteira
com mais idosos - Traduzindo em números: enquanto os planos
comerciais têm 12,5% de seus clientes na faixa etária acima de 59 anos, os
planos de autogestão possuem na média perto de 30%. “Mas isso é média,
porque não raro encontramos planos que batem nos 50%”, resume Rogério.
Estes últimos, lembra, terminam obrigados a fazer o atendimento não
importa onde a pessoa se encontre e não conseguem desenhar produtos com a mesma
flexibilidade, nem combinar com outros.
Rogério
cita um caso onde, entre outros, os planos de autogestão deveriam ter as suas
regras flexibilizadas pela ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar. Hoje,
todos os planos, independentemente de visarem ou não o lucro, são obrigados a
fazer provisões. Os autogeridos bem que poderiam estar dispensados disso ou, ao
menos, sujeitos a terem de oferecer garantias menores, uma vez que as empresas
às quais estão ligados lhes dão respaldo. Enfim, é um custo que poderia ser
reduzido com a flexibilização da norma.
Para
Aderval Paulo Filho, Presidente da UNIDAS - União Nacional das
Instituições de Autogestão em Saúde, os principais desafios não se
limitam aos custos assistenciais, uma vez que há também a
judicialização, a gestão da população idosa (o segmento das autogestões
concentra o maior percentual, 28,2%), o implemento de novas tecnologias de
forma agregada, além de normativos da ANS que não levam em consideração a
especificidade do segmento. “Somente conseguiremos superá-los intensificando
nossas ações conjuntas, buscando investir ainda mais em programas de promoção à
saúde e prevenção de doenças, sensibilizando legislativo e órgãos reguladores
em relação às autogestões, destacando suas características visando o
crescimento do modelo”.
Aderbal, que é também
dirigente da Fundação Sanepar de Previdência e Assistência Social – FUSAN,
sublinha já terem a Unidas e a Abrapp apresentado à ANS (Agência Nacional de
Saúde Suplementar) as demandas mais urgentes. A pauta inclui reivindicações
técnicas, com temas relativos às margens de solvência, à provisão para eventos
ocorridos e não avisados, e a eventos e sinistros a liquidar. “Com as regras
que temos hoje, as autogestões correm risco. Somos responsáveis por mais de 5
milhões de vidas e esse é um público que se sair das autogestões irá
sobrecarregar o SUS ainda mais. Além disso, atendemos o maior percentual de
idosos da saúde suplementar. Por isso, somos um segmento diferenciado e que
precisa ser tratado de maneira diferenciada”, arremata.
Diário dos Fundos de Pensão