Servidor do INSS desbloqueou 20 mil benefícios para
empréstimos em 39 dias, e órgão investiga.
- Instituto afirma que abriu processo disciplinar para apurar
envolvimento de ao menos cinco funcionários
- Documento sigiloso alertou para 'mercado paralelo' de desbloqueios
para facilitar financiamentos
O INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)
investiga o possível envolvimento de cinco servidores em um "mercado
paralelo" de desbloqueios irregulares de benefícios para empréstimos
consignados.
Um único funcionário da autarquia foi responsável por liberar 20,4
mil benefícios para novos financiamentos em um intervalo de apenas 39 dias.
Os dados constam em uma nota técnica sigilosa
elaborada pela CGMob (Coordenação-Geral de Monitoramento e Cobrança
Administrativa de Benefícios) a partir de mapeamento realizado entre janeiro e
março de 2025.
A Folha teve acesso a trechos do documento, enviado ao novo
comando do órgão em 8 de maio —uma semana após a nomeação de Gilberto Waller
Jr. como presidente.
A partir das informações, a corregedoria do INSS
instaurou um processo administrativo disciplinar. Os dados também foram
encaminhados à Polícia Federal.
Em nota, o instituto informou que a apuração
abrange inicialmente cinco funcionários, cujas identidades são mantidas sob
sigilo. "A investigação segue em andamento para apurar eventuais
responsabilidades de outros servidores", disse.
A expressão "mercado paralelo" foi usada
pelos próprios técnicos que elaboraram o relatório.
Segundo o documento, as
ações rastreadas estavam diretamente ligadas a empréstimos em andamento, num
indicativo de que o desbloqueio é um "mecanismo facilitador" para
essas transações.
O desbloqueio de benefícios é a chave que abre a
porta da contratação de empréstimos com desconto na folha dos beneficiários do
INSS.
Isso porque as regras do órgão preveem que o benefício recém-concedido
nasce bloqueado e fica nessa condição por 90 dias. Depois disso, é possível
solicitar o desbloqueio.
FOLHA DE SÃO PAULO