Reduzir conta de salários do Estado é
correto, tanto quanto impedir que as vagas sejam novamente ocupadas, mas nada
equivale a equilibrar o sistema previdenciário
Devido ao efeito paralisante que a
crise política provocou no Congresso, a reforma da Previdência ficou congelada
e tornou a equação fiscal ainda mais complexa. Ainda bem que o Senado conseguiu
concluir a modernização do arcabouço legal trabalhista, para ajudar na
flexibilização dos entendimentos entre capital e trabalho, maneira eficiente
para preservar-se empregos e de se criarem outros. Mas, dado o volume de
dinheiro público envolvido no sistema previdenciário e os seus desequilíbrios,
não há alternativa a não ser enfrentar e resolver o problema. Enquanto isso, o
governo anuncia um Programa de Demissão Voluntária (PDV) para buscar reduzir a
segunda maior despesa da União, a folha de salários.
Embora insuficiente para desanuviar o
cenário das contas públicas, é medida bem-vinda, mesmo que só vá surtir efeito
no ano que vem, segundo o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, porque não
há espaço no Orçamento para as despesas com indenizações.
A expectativa é que apenas 5 mil dos
500 mil funcionários ativos da União adiram ao PDV. Com salários em dia e
estabilidade garantida, admite-se ser difícil convencer servidores a saltar
para o mundo da grande maioria dos brasileiros, em que há 14 milhões de
desempregados.
É imprescindível que, pelo menos, as
vagas abertas pelo PDV sejam fechadas, para que não haja a tentação de seu
preenchimento em alguma eleição próxima. Haverá ainda a possibilidade de
redução de salário e jornada, assim como de licença não remunerada.
O tema do funcionalismo por si só
merece amplo debate, para que seja atacado, afinal, este outro santuário de
bizarrices e de heranças do varguismo que emperram o país.
A estabilidade no emprego é um desses
obstáculos que impedem que a máquina da administração direta ganhe eficiência.
Além de repartição pública ter se transformado em totem da incompetência e da
burocracia, funciona também como célula de tortura da população, principalmente
da menos favorecida socialmente, mais dependente dos serviços do Estado.
A estabilidade é terra fértil para o
crescimento de corporações nos aparelhos de Estado, cuja atuação passa a se dar
subordinada a interesses privados de grupos.
A economia projetada por este PDV para
o ano que vem é modesta: R$ 1 bilhão. Para se comparar, a meta fiscal deste ano
é um déficit primário de R$ 139 bilhões e, mesmo assim, está difícil
alcançá-lo. Mas, insista-se, tratar da questão desta folha de salários de R$
213,7 bilhões é crucial.
Há também PDVs em estatais, da mesma
forma entulhadas de funcionários depois de 13 anos de governos lulopetistas,
durante os quais criaram-se 55 novas dessas companhias.
Não se pode é perder o foco na reforma da Previdência, a maior conta de
despesas — e crescentes. Neste ano, apenas o rombo previdenciário do INSS será
superior a R$ 180 bilhões.
G1