O que pensam os
economistas, do ponto de vista técnico, sobre as principais medidas deveriam
ser adotadas pelo novo ou pela nova presidente em seus primeiros cem dias de
governo, quando o capital e a força política são maiores.
Para mais de 83%
deles, a primeira medida que deveria ser levada adiante pelo novo governo é a
reforma da Previdência.
A segunda
prioridade seria a reforma tributária (69%), seguida da reforma do Estado, que
inclui a reestruturação do funcionalismo e um programa de privatizações (57%).
Também mereceram
destaque o incentivo a investimentos em infraestrutura (21,5%), a revisão de
reformas adotadas no governo Temer (19%), o incentivo ao comércio exterior e a
tributação de grandes fortunas e dividendos (12% dos votos, cada).
Não há receita
fácil nem solução mágica, porém, para nenhum dos prismas do problema fiscal. Do
lado das despesas, a reforma da Previdência é apontada como mais evidente, por
conta do fim do bônus demográfico e das regras peculiares adotadas pelo país,
que sequer tem idade mínima de aposentadoria. Mas o modelo a ser adotado está
longe de ser unanimidade. "Tenho muito medo de a qualidade do gasto
público deteriorar", diz Araújo. "Se não houver a reforma da
Previdência, com o teto do gasto, será preciso continuar cortando atividades
fundamentais."
Se a mudança fosse
feita no início do governo, ressaltam outros especialistas, o capital político
exigido na aprovação da mudança seria menor. "Tem de ser um pacote único,
de um teto que mantenha os princípios de rédea sobre as despesas públicas, mas
sem bater de frente com o Congresso e com medidas benéficas para o povo, somado
à reforma da Previdência", diz Monica de Bolle, professora na Johns Hopkins
University e "senior fellow" do Peterson Institute for International
Economics. "São medidas que têm de ser discutidas juntas, desde o primeiro
dia."
Apesar de
ressaltar a necessidade de controle das contas públicas, economista do
PT afirma que há um "overshooting" nas discussões da reforma da
Previdência. "Há o problema evidente do envelhecimento da população, mas a
reforma proposta pelo governo ilegítimo destruiu a importância do sistema
previdenciário, além de ter mexido com interesses de toda a população",
ela afirma. "Trabalhei no mercado financeiro e sei do grande interesse do
sistema privado pelo filé mignon que é a Previdência." Marcio Pochmann, o
principal economista à frente da campanha petista, já disse que a reforma da
Previdência não é emergencial. Segundo Leda, há ainda uma "mística
infernal" na relação dívida/PIB. Uma vez que o Japão tem dívida de 230% e
em muitos outros países a dívida supera em 100% do PIB, o Brasil não estaria à
beira do precipício. "Isso é terrorismo econômico com endereço certo."
Esse é o ponto. A
rejeição ao PT - líder absoluto, quando Lula é colocado na pesquisa - por uma
parte dos economistas se dá por vários motivos. O principal, dizem eles, é a
insistência, por parte da equipe econômica, na política que levou aos descontroles
do governo Dilma. Para o partido, o equilíbrio fiscal se dará pela volta do
crescimento e não pelo corte dos gastos.
O caminho
vislumbrado por todos é o de uma coalizão. De preferência, até mesmo antes das
eleições. "Nasci no Brasil, me criei na Argentina e voltei ao Brasil na
adolescência, em 1976, com a família fugindo de uma ditadura feroz: aprendi a
valorizar o diálogo, mesmo num governo autoritário, entre os representantes do
governo e da oposição", diz Fábio Giambiagi, economista chefe do BNDES.
VALOR ECONÔMICO