Os
acionistas da Vale reunidos na Valepar, holding que controla a mineradora,
apresentaram nesta segunda-feira proposta para pulverizar seu controle, de modo
a poder listá-la no Novo Mercado, o mais alto nível de governança da
BM&FBovespa. O objetivo é que isso ocorra após três anos. Até lá, a
estrutura societária da empresa passará por um período de transição, em que os
atuais acionistas no bloco de controle perdem poder, e o Conselho de
Administração da empresa ganha autonomia.
Segundo a
proposta, o novo acordo de acionistas da Valepar terá vigência de seis meses, a
contar de 10 maio, dia seguinte à data de término do atual. Durante esse
período, as ações da Vale serão unificadas. Quem tem ações preferencias (PN,
sem direito a voto) terá seus papéis convertidos em ações ordinárias (ON, com
direito a voto). A conversão será voluntária e com base na média do valor de
mercado das duas classes de ações nos últimos 30 pregões da Bovespa.
Em
seguida, a Valepar será incorporada à Vale, com antecipou o colunista do GLOBo
Lauro Jardim na edição de domingo. Ou seja, os acionistas da Valepar terão
ações diretamente na mineradora e não mais por meio da holding, que hoje
controla a companhia com 54% das ONs. Integram a Valepar os fundos de pensão
Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Fundação
Cesp, reunidos na Litel. Além deles, a BNDESPar, a Bradespar e a japonesa
Mitsui compõem a holding.
CONSELHO
GANHARÁ PODER
Haverá,
então, um novo acordo de acionstas da Vale, não mais da Valepar, que terá
duração até novembro de 2020. Num primeiro momento, 20% das ações da Valepar
serão vinculadas a esse acordo. Os acionistas da Valepar continuarão exercendo
influência sobre a empresa até que, quando a Vale for listada no Novo Mercado,
eles não mais terão como influenciar os rumos da companhia.
— As
reuniões prévias dos acionistas da Valepar deixarão de ser obrigatórias (nessas
reuniões, os acionistas decidiam como iam votar no Conselho). E os conselheiros
não serão mais eleitos pela Valepar. O Conselho ganhará poder — afirmou o
presidente da mineradora, Murilo Ferreira.
Ao fim do
processo, porém, os acionistas da Valepar terão um quinhão maior do que os que
têm hoje. Segundo apresentação feita por executivos da Vale, a Valepar detém
33,7% do capital total da mineradora atualmente e passará a ter 36,7% após sua
incorporação pela Vale. Resultado de um prêmio pago pela Vale para equacionar a
nova estrutura societária.
A
conversão das ações, a incorporação da Valepar pela Vale e mudanças no estatuto
da empresa ainda terão de ser votadas em assembleia, que deve ocorrer em junho.
‘MARCO
IMPORTANTE COMO PRIVATIZAÇÃO’
Ferreira
classificou a proposta do novo acordo de acionistas como um marco “tão
importante quanto a privatização da Vale”.
O acordo
atual da Valepar foi assinado em 1997, quando a Vale foi privatizada, e tinha
20 anos de duração. Da forma que foi redigido, ele mantinha forte influência do
Estado sobre a empresa, uma vez que a Valepar era controlada por fundos de
pensão de estatais que, ao lado do BNDES, detinham maioria na holding.
Além disso, havia uma classe especial de ações de
propriedade do governo brasileiro, as golden shares, que asseguravam poder de
veto sobre matérias como alteração da sede da empresa e venda ou encerramento
de de qualquer das etapas da exploração de minério de ferro, incluindo reservas
do mineral e os modais para transportá-lo, como ferrovia e portos.
Extra