O governo
encaminhou no final da noite desta segunda-feira (5) ao Congresso Nacional uma
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para reformar a Previdência Social,
fixando uma idade mínima de aposentadoria de 65 anos, informou o ministro da
Casa Civil, Eliseu Padilha.
A
declaração foi dada na abertura de uma reunião no Palácio do Planalto para
detalhar a proposta aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e aos parlamentares. Também falaram o
presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Segundo o
líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), os militares ficarão de fora
da reforma da Previdência. Haverá, de acordo com ele, uma proposta em separado
para eles. A lém disso, também será estabelecida uma contribuição para os
trabalhadores rurais, mas a idade ainda está sendo discutida. Ele confirmou
ainda que os estados e municípios poderão aderir ao Funpresp.
O
objetivo do governo ao propor uma reforma da Previdência é tentar manter a
sustentabilidade das contas públicas, diante de um déficit crescente do sistema
previdenciário brasileiro – que resulta de regras atuais mais benéficas do que
no resto do mundo, de um envelhecimento da população brasileira e de queda na
taxa de natalidade no país.
Em
estudo, o governo informa que a média de idade da aposentadoria no Brasil, de
58 anos em 2015, está entre menores do mundo. A média de idade da aposentadoria
nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
– grupo de nações desenvolvidas – é de 64,2 anos para os homens (ano base
2012).
Segundo o
ministro Eliseu Padilha, sem a reforma, em 2024, todo o orçamento da União será
utilizado para pagar a folha de pagamentos e a aposentadoria.
"Nós
não estamos inovando. Eu cito, como curiosidade: o primeiro regime
previdenciário brasileiro tinha idade mínima de 65 anos, que é a idade que está
sendo proposta agora", afirmou Padilha durante a reunião.
Durante o
encontro, o presidente Michel Temer confirmou que o texto será enviado nesta
terça ao Congresso. "Chega de pequenas reformas. Ou enfrentamos de frente
[a necessidade de reformar a Previdência] ou iremos condenar os aposentados a
bater nas portas do Poder Público e nada receberem [no futuro]", declarou
o presidente.
Na
avaliação do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a reforma da Previdência
"não é questão de desejo, mas uma necessidade". "Mais do que a
idade em que a pessoa vai se aposentar, [importante] é a segurança de que vai
receber [a aposentadoria]", disse.
Ele
explicou que, atualmente, uma em cada 10 pessoas é idosa no Brasil e
acrescentou que, em 2060, será um idoso para cada três pessoas. "É uma
situação cada mais difícil de pagar a conta dos aposentados. Todos os meses o
regime geral paga cerca de 29 milhões de benefícios, equivalentes a R$ 34
bilhões por mês", afirmou Meirelles.
Temer diz
que enviará reforma da previdência nesta terça.
Direito
adquirido e regra de transição
"A
proposta leva em conta direitos adquiridos, inatacáveis. Nada muda para quem
recebe os benefícios ou que completaram os requisitos para se aposentar.
Aqueles que já completaram as condições para o acesso [ao benefício
previdenciário], não precisam se preocupar. Seus direitos não serão
atingidos", disse o presidente Michel Temer.
Segundo
ele, as novas regras valerão integralmente para os mais jovens e haverá regras
de transição para garantir uma "transferência mais tranquila para a nova
situação".
De acordo
com a proposta do governo federal, as novas regras de aposentadoria valerão
para homens com até 50 anos. Quem já estiver acima dessa idade, será submetido
a uma regra de transição – que até o momento ainda não foi esclarecida pelo
governo federal.
O lider
do governo no Senado, Romero Jucá, informou, que, na regra de transição, ficará
estabelecido que as mulheres com mais de 45 anos terão direito - ou seja, um
regra mais benéfica do que no caso dos homens.
Temer
defende idade mínima para aposentadoria
Pelo
sistema atual, para os contribuintes do sistema urbano, o contribuinte precisa
fazer uma pontuação mínima para conseguir se aposentar com 100% do benefício.
Essa
pontuação é calculada pela soma da idade da pessoa e o tempo de contribuição e
tem que ser de pelo menos 95 para homens e de 85 para mulheres. Esse cálculo é
uma alternativa ao fator previdenciário, aplicado caso o trabalhador queira se
aposentar antes, mas com um benefício menor.
No caso
da aposentadoria rural, a regra atual exige que, para requerer a aposentadoria,
os trabalhadores devem ter 60 anos (homens) e 55 (mulheres) e comprovar 15 anos
de trabalho no campo. Não é preciso ter contribuído para o INSS.
Para os
servidores públicos, há várias regras, mas a geral é por idade, sendo 60 anos
para homens e 55 para mulheres, com 35 anos de contribuição (masculino) e 30
anos (feminino). Essa regra permanente vale para pessoas que ingressaram nas
carreiras depois de 1998.
Quem
ingressou antes de 1998 tem acesso a algumas regras de transição que permitem a
essas pessoas se aposentaram antes. Não há necessidade de ter 35 e 30 de
contribuição, para homens e mulheres, podendo ter apenas 65 e 60 anos de idade.
Para
calcular o valor do benefício, quem ingressou até 2003, pode vir a receber o
valor do seu último salário como benefício - dependendo das regras de transição
- e quem ingressou após vai receber a média dos salários.
Ainda no
caso do serviço público, o servidor que entrou a partir de fevereiro de 2013
tem o benefício limitado ao teto do INSS. Para receber acima deste valor, tem
de contribuir para o Funpresp - um fundo de pensão dos servidores, pelo qual
ele pode aportar até 8,5% do salário com uma contrapartida equivalente
patronal.
Já no
caso das pensões de militares, quem ingressou depois de agosto de 2001 não tem
direito de gerar pensão vitalícia para a filha. O militar que entrou até agosto
de 2001 e optou por contribuir com 1,5% além do valor nomal tem assegurado o
direito da pensão vitalícia para a filha.
Segundo
números oficiais, a aposentadoria rural paga, atualmente, cerca de 9,3 milhões
de benefícios, enquanto a aposentadoria urbana (sem contar servidores públicos
e militares) registra o pagamento de 18,75 milhões de benefícios. Há ainda as
pensões por morte, que somam 7,5 milhões.
A
proposta de reforma da Previdência visa evitar um crescimento ainda maior, no
futuro, do rombo da Previdência Social - cuja previsão é de R$ 230 bilhões para
2017, englobando trabalhadores do setor privado, público e as pensões de
militares, o equivalente a 3,46% do PIB. Os números constam na proposta de
orçamento do ano que vem.
O déficit
do sistema previdenciário é pago por toda sociedade, com recursos obtidos por
meio da arrecadação de impostos. Neste ano, o déficit dos sistemas de
Previdência Social do país deve ficar em cerca de R$ 200 bilhões (3,2% do PIB).
Com isso, a previsão é de um aumento de cerca de 16%, ou de R$ 30 bilhões, no
rombo dos sistemas previdenciários em 2017.
Somente
para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), sistema público que atende
aos trabalhadores do setor privado, a previsão é um déficit de R$ 181,2 bilhões
(2,66% do PIB no próximo ano). Em 2016, a previsão é de um déficit de R$ 151,9
bilhões (cerca de 2,4% do PIB).
De todo o
rombo previdenciário, a maior parte refere-se à aposentadoria rural, no caso do
INSS, e aos servidores públicos e militares - que possuem regimes próprios. Em
2015, o rombo da aposentadoria rural somou R$ 91 bilhões e, dos servidores
públicos e militares, totalizou R$ 72,5 bilhões. Se os estados forem incluídos
nessa conta, o tamanho do buraco fica maior ainda: R$ 133,4 bilhões no ano
passado.
Segundo
previsão do governo, sem mudança das regras, a despesa do Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS) para pagar todos os benefícios, que hoje fica em 8% do
Produto Interno Bruto (PIB), pode passar, em 2060, ao equivalente a 17% do PIB
- algo como mais de R$ 600 bilhões a mais. Sem mudanças, a previsão do do
secretário de Previdência do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano, é de que
as contas podem "degringolar" no futuro.
Para o
ministro da Fazenda, mais importante do que manter a idade mínima para se
aposentar é garantir que a aposentadoria será paga, ou seja, é garantir que o
sistema previdenciário será sustentável nos próximos anos. Falando sobre o
sistema atual de aposentadorias, o ministro disse ainda que “é injusto conceder
privilégios a pequenos grupos”, citando o serviço público.
Meirelles
diz que reforma da Previdência não é desejo, mas 'necessidade'
Tramitação
da PEC
Por
alterar a Constituição, as propostas de emenda têm uma tramitação mais longa no
Congresso. Inicialmente, é analisada pela Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) da Câmara para verificar se não fere nenhum princípio constitucional.
Caso a
CCJ entenda que a proposta é constitucional, é criada uma comissão especial
para analisar a PEC. O colegiado elabora e vota um parecer. Se aprovado, o
texto é enviado para análise do plenário da Casa.
No
plenário da Câmara dos Deputados, a PEC tem de ser aprovada, em dois turnos,
por três quintos dos deputados (308 votos). Ao final, tem de passar, ainda,
pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e por dois turnos no
plenário daquela Casa – com aprovação, novamente, de três quintos dos senadores
(49 votos).
Se o
Senado aprovar o texto como o recebeu da Câmara, a emenda é promulgada e passa
a valer como lei. No caso de alteração, o texto é enviado novamente para a
Câmara, que analisa as alterações feitas pelos senadores.
Após
anunciar as linhas gerais da proposta de reforma da Previdência, Temer recebeu
no Palácio do Planalto representantes de centrais sindicais.
Ao deixar
a reunião, o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva
(SD-SP), o Paulinho da Força, disse que a proposta, "do jeito que está,
não passa".
"O
Congresso vai fazer o papel que o governo não fez, que é a negociação com as
centrais. O ideal era que o governo tivesse discutido com as centrais à
exaustão [...]. O governo terá a maior confusão da história do Brasil",
acrescentou.
Paulinho
disse, ainda, que as centrais sindicais deverão se reunir nesta terça (6) para
discutir como conseguir mudar trechos da proposta.
Participaram da reunião no Planalto representantes,
além da Força, da União Geral dos Trabalhadores (UGT), da Central dos
Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), da Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (Contag), da Central dos Sindicatos Brasileiros
(CSB) e da Nova Central Sindical de Trabalhadores
G1