O ano de 2017 deve terminar com o cenário econômico melhor do que
o político e legislativo, o oposto do que se via nos primeiros meses, mas isso
significa que a reforma da Previdência não será votada nem em 2018, avaliou o
economista-chefe do banco Itaú Unibanco, Mario Mesquita.
"A capacidade do governo de direcionar a agenda legislativa
vai sendo enfraquecida se ele precisar usar capital político para outros fins",
afirmou ele em entrevista à Reuters nesta segunda-feira, em referência à
possibilidade de o presidente Michel Temer receber novas denúncias por crimes e
que precisarão passar pelo crivo da Câmara dos Deputados para seguir adiante.
"A gente acha que o governo tem apoio para aprovar medidas
que requeiram maioria simples, mas consideramos 308 deputados (necessários para
aprovar a reforma da Previdência) um desafio muito maior", acrescentou.
"Não está mais na nossa conta a aprovação da reforma da Previdência neste
e no próximo ano".
Mesquita, que foi diretor do Banco Central de 2006 a 2010, quando
a autoridade monetária estava sob a batuta do atual ministro da Fazenda,
Henrique Meirelles, também acredita que o governo terá de fazer novo
contingenciamento no Orçamento deste ano para cumprir a meta fiscal e, assim,
não precisar elevar mais impostos.
O fracasso do governo em aprovar a reforma da Previdência, no
entanto, não deve elevar muito a tensão do mercado financeiro, por ora,
avaliou, por causa de dois fatores: cenário benigno internacional e expectativa
de que um candidato reformista consiga ganhar a eleição presidencial de 2018.
"Os mercados internacionais estão benignos. O grande risco é
a política monetária nos Estados Unidos ser mais contracionista, mais
agressiva, e esse risco parece limitado porque os salários estão bem
comportados", argumentou Mesquita.
Com o cenário fiscal bastante conturbado, Mesquita acredita que a
dívida bruta do país somente começará a recuar no final da próxima década. Mas
sob uma condição: "Se passar a (reforma da) Previdência em 2019, o auge da
dívida será de 85 por cento do PIB em 2027", afirmou ele.
Hoje, a dívida bruta do país está em 73,8 por cento do Produto
Interno Bruto (PIB), segundo dados recentes do BC.
Mesquita diz que a economia tem mostrado mais força do que o
esperado e, por isso, vai elevar a projeção de crescimento para o Produto
Interno Bruto (PIB) deste ano de 0,3 por cento para algo próximo a 1 por cento,
mantendo a previsão de expansão de 2,7 por cento em 2018, mas com viés de alta.
"Se o cenário eleitoral for tranquilo, é possível que a
economia comece a acelerar e ganhe mais tração em 2018", acrescentou ele.
O economista também vê um cenário mais positivo para o mercado de
trabalho que, ao que tudo indica, já pode estar mostrando recuperação
consistente. Em julho, no último dado divulgado, a taxa de desemprego ficou em
12,8 por cento, segundo nível mais baixo do ano, ficando atrás apenas dos 12,6
por cento observados em janeiro.
"A nossa expectativa era que o desemprego só começaria a cair
no primeiro e segundo trimestres de 2018", disse.
O Itaú também estima que o atual ciclo de corte da Selic deve
chegar a 7 por cento no início do ano que vem, o que também deve colaborar para
a retomada da economia. Hoje, a taxa básica de juros está em 9,25 por cento ao
ano.
"Na nossa visão, precisamos ter novas surpresas para baixo da
inflação para justificar uma projeção de taxa de juros abaixo de 7 por
cento", afirmou Mesquita.
O ex-diretor do BC disse ainda que, mesmo os recentes aumentos de
preços promovidos pela Petrobras nos combustíveis, sobretudo pelo estrago feito
pelo furacão Harvey que impactou a produção de petróleo nos Estados Unidos, não
vão impactar a inflação no Brasil e, consequentemente, a política monetária.
G1