Um projeto de lei que modifica o modelo de gestão
dos fundos de pensão fechados tem preocupado entidades do setor. De acordo com
a vice-presidente da Associação Nacional dos Participantes de Fundo de Pensão
(Anapar), Cláudia Ricaldoni, a proposta reduz a transparência da administração,
pois a participação dos trabalhadores será reduzida.
Segundo o Projeto de Lei Complementar (PLP)
268/16, do Senado, os conselhos deliberativos e fiscais dos fundos serão formados
por seis conselheiros: dois integrantes eleitos por participantes e assistidos,
dois indicados por patrocinadores e duas vagas preenchidas por “conselheiros
independentes”, recrutados no mercado. Pelas atuais regras, essas instâncias
são ocupadas por três representantes dos participantes e três do patrocinador.
“O trabalhador tinha paridade e passará a ter
apenas um terço da representação. Isso acontecerá nas diretorias e nos
conselhos fiscais”, lamentou Cláudia, durante o seminário “Em defesa do direito
à aposentadoria para todos”, realizado pela Federação Nacional das Associações
do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) e pela Anapar na sexta-feira 27,
em Brasília. Os representantes do mercado, observa, não serão submetidos a
eleições.
“Parte-se do pressuposto de que o cara de mercado
é mais competente, uma visão absolutamente falsa. A diferença entre ser um
gestor e um técnico é de que o poder da decisão, o poder da escolha, não pode
estar baseado somente na questão técnica”, avalia a vice-presidente da Anapar.
“Claro que tem que ser uma escolha técnica, mas é uma escolha. Se não fosse
assim, se pegaria um computador e ele tomaria a decisão”.
Cláudia criticou, ainda, os resultados da CPI dos
Fundos de Pensão, que funcionou na Câmara dos Deputados no ano passado. Para
ela, o colegiado “criminalizou” os fundos que tinham gestão paritária, a
exemplo da Previ e da Funcef. “Eles detonaram a gestão. Pode ter tido algum
tipo de problema, mas o ataque ostensivo aconteceu por intenção política”.
De acordo com deputada petista Érika Kokay, a CPI
teve como foco atingir o PT. A parlamentar afirmou que o Postalis, fundo dos
Correios, e sem gestão paritária, nem sequer entrou no relatório final da
comissão, pois seus diretores pessoas indicadas por partidos aliados ao atual
governo. “O nível de dolo que houve na Postalis não foi considerado porque ali
não eram petistas, eram pessoas que estão no poder”, disse.
O advogado José Eymard Loguercio explica que o PLC
268/2016 retira das atuais regras as entidades fechadas e de natureza pública,
responsáveis pelos fundos de pensão, e permite que as pessoas possam optar por
encerrar seus planos nos fundos fechados para migrá-los para os de previdência
aberta, que podem ser comercializados por bancos. Para Kokay, a proposta
desvia a finalidade dos fundos de pensão. Ao invés de terem seus recursos
usados para projetos de desenvolvimento do País, poderão ser usados em prol do
sistema financeiro.
Carta Capital