Abandonar
um veículo de investimento por conta do desempenho passado de uma determinada
classe de ativos não é o melhor caminho para avaliar as possibilidades de
diversificação futura, mas a situação deve exigir, sem dúvida, uma reflexão
sobre questões de mercado e de governança. É o caso dos Fundos de Investimento
em Participações, FIPs. Utilizados como forma de alocar recursos no mercado de
private equity, alguns deles entraram na lista de episódios recentemente
noticiados e outros simplesmente decepcionaram por uma série de fatores,
mas há uma discussão hoje sobre as perspectivas de retomada desse tipo de
investimento.
“No que
diz respeito aos FIPs, nos preocupa perceber que há uma certa “demonização”
desse instrumento, depois que a maioria deles não deu bons resultados nas
carteiras das Entidades Fechadas de Previdência Complementar”, afirma o
presidente da Abrapp, José Ribeiro Pena Neto. Em primeiro lugar, ele lembra que
o sucesso dos projetos envolvidos dependem em grande medida do desempenho da
economia e a perspectiva de bons resultados macroeconômicos nos últimos anos
não se confirmou.
“Paralelamente,
houve possíveis casos de gestão temerária ou de desvio de conduta, que foram
convenientemente identificados pela Previc e estão sob investigação, então é
preciso todo cuidado para identificar quem fraudou mas não podemos inviabilizar
toda uma classe de ativos por causa disso”, sublinha Pena Neto.
Liquidez - Os
FIPs poderão ser atrativos num cenário de juro menor, diante da necessidade de
buscar retorno em ativos reais, mas a liquidez é fundamental e o mercado irá
viver um processo de refinamento na análise das teses de investimento desses
fundos. A conclusão é do presidente da Casfam/Fiemg e diretor executivo da
Abrapp, responsável pela Comissão Técnica Nacional de Investimentos, Guilherme
Velloso Leão. Além de refinar as teses dos FIPs, ele vê espaço para
aprimorar o trabalho dos gestores e maior cuidado na análise de risco. “Também
devemos caminhar para um endurecimento das exigências de governança das
EFPCs, haverá maior complexidade nas decisões de investimento e maior
debate”. Também seria fundamental haver fundos de aplicação em cotas de FIPs,
fundos de fundos capazes de estimular o mercado secundário e a liquidez.
Regulação
e governança – A expectativa de alterações na Resolução CMN
3.792, que trata dos investimentos dos fundos de pensão, inclui uma possível
mudança nos critérios para aplicar em FIPs, segundo comentários recentes de
representantes da Previc e do mercado. “A nova Resolução deverá caminhar
na direção de maior rigor na mitigação de riscos dos investimentos mas isso
está sendo discutido no âmbito do Conselho Monetário Nacional e, embora
concordemos filosoficamente com esse rumo, falta saber detalhes das eventuais
mudanças”, afirma Pena Neto. A preocupação é que não haja excessos regulatórios
que, para reduzir riscos acabem tornando essa opção inviável. “Será preciso que
a Resolução tenha um balanceamento que torne os investimentos mais seguros sem,
entretanto, inviabilizar classes de ativos que são fundamentais como os FIPs”.
“Mexer
muito na regulação, criar normas e exigências demais pode acabar engessando
esse investimento, o ideal é que haja um exercício de governança por parte dos
gestores dos fundos de pensão”, pondera o diretor de Investimentos e Patrimônio
da Funcesp, Jorge Simino. Para isso, será preciso verificar a
convergência dos projetos tanto na teoria quanto na prática.
“O Brasil
espera voltar a crescer um dia e os investimentos na economia real poderão
voltar a ser uma alternativa importante para os fundos de pensão”, argumenta o
presidente da Abrapp. A considerar essa perspectiva, ele defende a
importância dos FIPs: “Não podemos inviabilizar essa alternativa, nem
internamente nas políticas de investimento das entidades, nem externamente via
medidas regulatórias que dificultem esse tipo de alocação”.
A
regulação do FIP precisará passar por uma melhoria, assim como o entendimento
do Judiciário sobre a responsabilidade das fundações e dos gestores, acredita
Guilherme Leão. Ele defende a necessidade de um esforço conjunto entre Abrapp,
Anbima e outras entidades ligadas a esse mercado no sentido de aprofundar o
debate. “De todo modo, é preciso esclarecer uma certa confusão sobre o que é
responsabilidade da fundação, por meio de seu AETQ, e dos gestores que
deliberaram sobre aquele investimento, definir o que é gestão temerária e risco
de mercado, discutir a transparência das informações prestadas pelos gestores,
entre outros aspectos”.
Compreender
o conceito - Na Funcesp, os dois únicos FIPs que entraram na carteira
de investimentos da fundação, em 2007, representavam apenas 0,5% dos ativos
totais da fundação e foram escolhidos como um exercício de aprendizado nessa
classe de ativos. “De lá para cá, um deles deu errado e o outro está indo bem,
mas a experiência mostrou que esse é um tipo de investimento complexo, que
demanda acompanhamento intenso e, portanto, tem um custo elevado, o que nos
levou a decidir não fazer novas alocações por enquanto”, explica Jorge Simino.
A decisão, entretanto, como todas as demais, é sempre muito bem explicada aos
diretores e conselheiros.
A
filosofia da entidade, conta Simino, não é discutir as classes de ativos por si
mesmas mas sim as oportunidades de investimento interessantes que surjam em
qualquer uma delas, desde que sigam as abordagens básicas de retorno, risco e
liquidez. “No caso do FIP, não acredito que o veículo de investimento deva ser
culpado e alguns problemas ocorridos no passado recente talvez tenham sido
ocasionados pelo uso inadequado desse instrumento”, afirma o diretor.
O conceito básico do FIP, lembra Simino, é o de uma carteira
composta por diversas empresas que, num horizonte de seis a oito anos terão
resultados diferenciados entre si, algumas elas darão muito certo, outras irão
apenas bem e outras poderão não ter um bom desempenho. No conjunto, porém a
diversificação de riscos terá feito o seu papel, mas houve casos em que o FIP
continha uma única empresa, eram monoinvestimentos e, como tal, o risco
envolvido ficou muito maior. “Em alguns casos - e não em todos porque também
houve investimentos bem sucedidos-, houve um desvirtuamento do conceito
do FIP”.
Diário dos Fundos de Pensão