BANCO CENTRAL DO BRASIL


Com apoio involuntário de Lula, Banco Central é escolhido o melhor do mundo.

Gestão de Campos Neto já recebeu todos os principais galardões do setor. Apesar ou por causa das críticas de Lula?

O presidente Lula tem frequentemente afirmado que o presidente do Banco Central (BC) "não entende de Brasil", "joga contra a economia" e "não entende de povo". Menospreza Roberto Campos Neto ao tratá-lo por "esse cidadão" e por "louco" e faz críticas constantes à instituição por manter os juros altos. Se pudesse, Lula já o teria demitido.

Como numa cena shakespeariana, as críticas têm, na verdade, servido para que o BC cimente a sua autonomia, contrariamente à prática da maioria dos países em desenvolvimento. 

A resistência de Campos Neto às pressões externas foi um dos fatores preponderantes para que a instituição fosse, na semana passada, escolhida como o melhor banco central do mundo pelo jornal online Central Banking

A gala de premiação, reconhecida como o "Oscar" do setor, já em sua 11ª edição, está agendada para junho, em Londres.

Não é pouca coisa. Na Turquia, o presidente Recep Tayyip Erdogan já demitiu quatro presidentes do banco central devido a desacordos sobre a política das taxas de juros.

Erdogan era favorável a taxas mais baixas para estimular o crescimento econômico, enquanto o banco central defendia taxas mais altas para combater a inflação.

Na Argentina, o presidente do banco central renunciou após a presidente Cristina Kirchner acusá-lo de ter forçado o governo a promover uma desvalorização da moeda. 

Um anterior presidente, Martín Redrado, havia sido deitido por decreto.

Em Portugal, um ex-ministro da Fazenda assumiu a presidência do Banco de Portugal (o banco central) e, durante o seu mandato, foi indicado pelo então primeiro-ministro demissionário António Costa como a figura ideal para liderar um novo governo.

Em Portugal, as portas giratórias são infelizmente demasiado comuns. A imprensa criticou os conflitos de interesse.

Foi diferente no Brasil. "Embora o BC tenha recebido elogios generalizados por seu forte compromisso em combater a inflação, atraiu uma resposta nitidamente contrastante do novo presidente do país", escreveu o jornal financeiro britânico.

O BC do Brasil conseguiu reduzir a inflação de um pico de 12,13% em abril de 2022, no acumulado de 12 meses, para os atuais 4,5% (o ponto mais baixo foi 3,16% em junho 2023), mantendo uma política monetária de subida dos juros até agosto de 2023. 

O júri do jornal Central Banking considerou que o BC foi das primeiras autoridades monetárias a entender que a crise inflacionista não era "transitória" e que o risco de "fazer menos", dado o histórico hiperinflacionista do Brasil, era muito maior do que "fazer demais" (desvitalizando a atividade econômica).



FOLHA DE SÃO PAULO
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