O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco
afirmou na manhã desta terça-feira, 27, que o FGTS e o FAT deveriam ser
fundidos e transformados em um grande fundo de pensão, que seria um segundo
pilar do esquema básico do INSS. A declaração foi dada durante evento promovido
pelo Instituto Millenium, do qual Franco é presidente.
"O FGTS e o FAT são de uma época na qual o
governo precisava nos ensinar a poupar, é um imposto disfarçado que alimenta
fundos públicos. É quase uma propriedade da Caixa e do BNDES, que muitas vezes
utilizam esses recursos para realimentar a política, emprestando para
prefeitos, ou com subsídios fora do Orçamento. É um convite ao mau uso",
comentou.
Franco apontou que o Brasil tem uma agenda social
e uma carga tributária de país europeu, mas como não é uma nação rica por isso
não tem condições de levar adiante essas benesses. Segundo ele, o País nunca
discutiu seriamente uma proposta de reforma do Orçamento. Ele apontou ainda que
o endividamento público é muito grande e isso ajuda a explicar a necessidade de
uma taxa básica de juros tão alta.
O ex-presidente do BC também apontou a
importância de promover uma maior inserção do Brasil no comércio internacional.
"Nós temos um viés anticomércio espetacular, que prejudica a
produtividade. Nossos bens de capital sempre estão algumas gerações atrás do
que se observa no resto do mundo. Estamos fora das cadeias globais de valor,
dos tratados de comércio", explicou.
Juros
Gustavo Franco acredita que o Brasil possa viver
um momento estrutural de queda de juros, a exemplo do que vinha acontecendo
desde a implementação do regime de metas de inflação, em 1999, mas que foi
interrompido em 2013. Naquele momento, a taxa básica de juros chegou na mínima
histórica de 7,25%.
"Se a gente tivesse continuado a fazer o que
estava fazendo até então, a Selic hoje poderia estar em 5,25% ou menos. Mas não
foi isso o que aconteceu. Naquele momento se introduziu a Nova Matriz
Econômica, o governo Dilma Rousseff entrou em guerra com o capitalismo e não
tinha como dar certo. Isso nos fez caminhar na direção contrária do sonho de
ter um custo de capital civilizado, mas agora estamos retomando o caminho
correto", afirmou.
Franco diz que é possível fazer uma conta muito
simples, segundo a qual a taxa de juros no Brasil seria o custo do capital nos
Estados Unidos, atualmente perto de 2% ao ano, mais um acréscimo de cerca de 2%
de risco cambial e mais 2% de risco soberano. Ou seja, o Brasil poderia ter um
juro nominal de cerca de 6%, ante o nível atual de 14,25% da Selic.
"Esse tipo de raciocínio sempre gera taxas
muito menores do que o Brasil está acostumado, mas é possível sim vencer nossos
problemas e chegar a um número consistente com o risco soberano e os
fundamentos da economia. Existem países parecidos com o Brasil que tem taxas de
juros muito menores, como o Chile, por exemplo", explicou. A taxa básica
de juros chilena está atualmente em 3,50%.
Segundo Franco, esse processo de normalização do
patamar dos juros no Brasil poderia levar cerca de dez anos, mas o início da
redução estrutural do custo do capital já traria frutos agora. "Isso pode
ser tão bom para a economia brasileira quanto foi o fim da hiperinflação",
apontou.
Questionado sobre quando o BC deve começar um novo
ciclo de corte de juros, Franco preferiu não arriscar uma data, mas disse que
será no curto prazo. "Assim, cada vez que a situação estrutural melhorar,
o BC vai sempre ver um pouquinho mais de espaço para os juros caírem, e menos
necessidade de subirem. Nós vamos oscilando, com tendência de queda, até onde
der".
Folha de Vitória