Cuidado para não se deixar influenciar pelo
momento; a Selic vai continuar caindo
Volatilidade
recente do mercado abre espaço para quem não aproveitou as taxas de juros no
ano passado
Desde
agosto de 2023, ocorreram seis reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom)
e em todas as seis a taxa básica da economia foi reduzida em 0,5%.
Nesta
próxima quarta-feira, o Copom deve divulgar uma nova alteração para a taxa
Selic.
Entretanto, a volatilidade recente nos mercados, trouxe alguma incerteza
sobre a intensidade do movimento, mas sua direção não mudou.
Sempre acreditamos que o momento em que estamos
vivendo tem particularidades.
Quando vivenciamos a dor do momento, costumamos
imaginar que ela é pior do que foi no passado. Quando me refiro a dor, quero
dizer o efeito angustiante da volatilidade.
Por vivenciarmos ela agora, parece
que a volatilidade nas taxas de juros estaria mais intensa que em outros anos,
o que gera vontade de buscar a estabilidade do CDI.
Mas isto não é verdade. Quem vive o momento sente o
peso, mas, depois de vivê-lo, ele sempre parece menos intenso. Por isso,
acreditamos que agora parece pior. E este efeito pode se traduzir em
oportunidade.
Diferentemente de um mês atrás, as taxas de mercado
precificam que o Banco Central pode não reduzir a Selic abaixo de 10% ainda
este ano.
Nos momentos de volatilidade muitas vezes os agentes de mercado pedem
um maior prêmio e esse prêmio é muitas vezes confundido com um novo sinal, ou
seja, de que as taxas de juros parem de cair.
Entretanto, é preciso ter calma e paciência para
separar o ruído da tendência.
Situações como essa também ocorreram no último
ciclo de queda de juros. O último ciclo de queda de juros começou em outubro de
2016 quando a Selic estava a 14,25% ao ano.
Em maio de 2017, o relatório Focus do Banco Central que
reúne as expectativas de mercado, apontava que a Selic no final de 2017 e de
2018 seria de 8,5% ao ano.
A realidade, ou seja, o sinal, mostrou que havia
prêmio nas taxas de juros. A Selic encerrou o ano de 2017 em 7% ao ano e de
2018, em 6,5% ao ano.
Naqueles dois anos, o IPCA médio foi de 3,3% ao
ano. Atualmente, o IPCA acumulado em 12 meses está em 3,9% ao ano e a
expectativa é que ele possa ser ainda menor nos próximos 12 meses.
Engana-se também quem acredita que este ciclo de
queda já esteja mais intenso e longo que anteriores. Só tivemos seis quedas de
juros totalizando apenas 3% de queda.
O último ciclo de queda de juros iniciado em 2017
foi marcado por 12 cortes de juros consecutivos e o movimento de queda total
foi de 7,75% na taxa.
Outra dúvida reside no diferencial de taxas de
juros entra a Selic e a taxa americana equivalente, os Fed Funds.
Em 2018,
quando nossa taxa Selic caiu para 6,5%, a taxa dos Fed Funds encerrou o ano em
2,35% ao ano, resultando em uma diferença de 4,15% entre estas duas taxas.
Neste momento, a diferença entre a taxa básica
brasileira e americana se encontra em 5,4%. Além disso, espera-se que os EUA
comecem seu ciclo de queda de juros este ano, abrindo espaço para novas
reduções na Selic.
Portanto, aproveite o momento em que os prêmios de
juros estão mais elevados para travar as taxas de juros por mais tempo.
Isso
pode ser feito por meio de títulos de renda fixa prefixados ou referenciados ao
IPCA, principalmente, em títulos de crédito privado isentos de IR ou fundos que
investem nestes.
Michael Viriato
FOLHA DE SÃO PAULO