Ao expor graves evidências
de "gestão temerária e fraudulenta" que resultou no desvio criminoso
de R$ 8 bilhões nos quatro maiores fundos de pensão das estatais, a Operação
Greenfield, lançada na segunda-feira passada pela Polícia Federal, mostrou
também que pode ser muito maior o alcance do aparelhamento da administração
pública federal e de suas empresas pelo PT e por seus aliados. Muito mais
amplas do que as já conhecidas devem ter sido também as vantagens indevidas -
para dizer o mínimo - que o esquema propiciou a seus operadores e sócios.
A operação atinge os
fundos Petros (Petrobrás), Funcef (Caixa Econômica), Previ (Banco do Brasil) e
Postalis (Correios). Autorizada pelo juiz titular da 10.ª Vara Federal do
Distrito Federal a pedido do Ministério Público, a operação envolveu a prisão
de 5 suspeitos, a condução coercitiva para prestar depoimentos de cerca de
outros 30 e o bloqueio de bens dos investigados no montante equivalente ao
total dos desvios estimados. Essas medidas atingiram ex-dirigentes de
empreiteiras como OAS e Engevix, ex-administradores dos fundos e proprietários
de grandes empresas como J&F, Gradiente e WTorre.
O objeto das investigações
é um grande esquema de corrupção baseado na realização, pelos fundos de pensão,
de investimentos temerários ou simplesmente ilícitos em benefício de grandes
empresas, em troca do pagamento de propina a gestores desses fundos e a políticos.
Como se trata de investigação no âmbito da primeira instância, a operação não
alcança políticos com mandato eleitoral, que têm direito a foro privilegiado.
Mas as investigações devem produzir indícios de envolvimento de figurões da
política. O fato de um dos investigados ser o ex-tesoureiro do partido João
Vaccari Neto, já condenado no processo do petrolão, coloca o próprio PT no
centro das investigações.
Na gestão petista, os
fundos de pensão se tornaram o segundo maior financiador dos projetos de
infraestrutura do governo, atrás apenas do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES). É lícito e necessário que esses fundos invistam
seus bilionários recursos em benefício de seus mutuários, de modo que possam
cumprir seu objetivo de oferecer aposentadoria e pensão complementares aos
empregados das empresas estatais. Mas sindicalistas filiados ao PT e protegidos
do PMDB, as duas maiores legendas que controlavam esses fundos, transformaram
os investimentos - que deveriam ser decididos de acordo com critérios técnicos,
de modo a reduzir os riscos e propiciar melhor rentabilidade - em generosa
fonte de enriquecimento pessoal e de financiamento do projeto de poder do
partido dominante.
A prática petista de meter
a mão no dinheiro de trabalhadores em benefício do partido ou para
enriquecimento pessoal de seus prepostos já se evidenciara, em proporções
muitos menores, quando o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo foi
denunciado pelo Ministério Público Federal como um dos responsáveis pelo
esquema criminoso por meio do qual era cobrado um "pedágio" de
aposentados que contraíam empréstimos consignados. Não por coincidência, o
ex-tesoureiro Vaccari Neto também está envolvido naquelas investigações. Mas o
golpe do crédito consignado, cujo montante é estimado em cerca de R$ 100
milhões, é brincadeira de criança perto do desvio de dinheiro dos fundos de
pensão das estatais.
De acordo com a
Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), os fundos
Petros, Previ, Funcef e Postalis juntos foram responsáveis por um prejuízo de
R$ 48,7 bilhões, equivalente a 62,6%, ou dois terços, do rombo acumulado em
todo o sistema em 2015. O desvio de recursos que beneficiou dirigentes dos
fundos, partidos políticos e empresas é parte desse prejuízo. O escândalo dos
fundos é mais uma demonstração do jeito petista de governar, do modus operandi
do populismo irresponsável que pretendia se perpetuar no poder iludindo a
boa-fé de milhões de brasileiros.
O Estado de S. Paulo