Valor: CVM condena por unanimidade ex-CFO do IRB à
multa máxima de R$ 20 milhões; ex-CEO é
absolvido
Relator afirmou
que é incontestável a tese de que ex-vice-presidente executivo financeiro foi a
origem da informação falsa de que o fundo Berkshire Hathaway, de Warren
Buffett, iria adquirir fatia relevante do IRB
Em sua última
sessão de julgamento do ano, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) condenou
por unanimidade o ex-vice-presidente executivo financeiro e de relações com
investidores do IRB, Fernando Passos, à multa máxima de R$ 20 milhões por
manipulação de preços de ações em 2020.
Já José Carlos Cardoso,
ex-diretor-presidente da companhia, foi absolvido, também por unanimidade, da
acusação de descumprimento do dever de diligência.
O relator, o
diretor da CVM Daniel Maeda — que fez nesta quinta-feira sua última sessão de
julgamento, já que deixa o cargo no fim de dezembro — afirmou em seu voto que é
incontestável a tese de que Passos foi a origem da informação falsa de que o
fundo Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, iria adquirir fatia relevante do
IRB.
A notícia levou as ações a uma valorização 13,2% em dois dias.
O relator afirmou
que os bons antecedentes do ex-CFO permitiriam a aplicação de um atenuante de
15% do valor.
No entanto, acrescentou outros 15% pelo “agravante de dano à
imagem do mercado de valores mobiliários pela prática de manipulação de preço.”
Permaneceu, portanto, a multa máxima de R$ 20 milhões.
O caso foi tema de
investigação no Departamento de Justiça americano, que aceitou que o IRB
pagasse US$ 5 milhões para encerrar o assunto.
A primeira vez que o
megainvestidor Warren Buffett foi associado a uma possível compra de fatia do
IRB foi em 2017, com a divulgação de notícias que citavam uma suposta
negociação para depois do IPO.
Três anos depois, em 26 de fevereiro de 2020,
quando as ações da empresa estavam em queda, outra notícia circulou reacendendo
a possibilidade de Buffett entrar na empresa.
Desta vez houve reação positiva
do mercado, e o papel subiu 13,2% em dois dias.
A eventual compra
de fatia do IRB por Buffett teve desdobramentos nos dias seguintes, que
seguiram tendo impacto positivo nas cotações.
Em 2 de março daquele ano, em
teleconferência com analistas, Passos teria afirmado que a Berkshire Hathaway
já detinha ações da empresa e teria aumentado a posição, inclusive com
indicação de uma representante no conselho fiscal. Naquele momento, Cardoso não
contestou a informação.
Após pedido de
esclarecimentos da CVM, porém, a companhia respondeu que o fundo de Buffett não
era acionista com mais de 5%.
E, em 3 de março, a Berkshire Hathaway informou
em nota oficial que não era e não tinha intenção de se tornar acionista do IRB.
As ações iniciaram
trajetória de queda e, no dia 4 de março, foi anunciada a renúncia de Passos e
Cardoso e informado que o Conselho de Administração da empresa instalou
procedimento interno para apurar a divulgação de ações ao mercado.
Na
investigação, o IRB informou à CVM que em investigação interna descobriu que
Passos teria adulterado eletronicamente uma troca de e-mails entre Cardoso e um
representante da Berkshire Hathaway.
Em depoimento à
CVM, Passos admitiu “ajustes” em um arquivo com a base acionária da companhia
“para verificar qual seria o tamanho da Berkshire Hathaway no ranking de
acionistas, na hora em que aparecesse a compra daquele volume de ações”.
Segundo a argumentação da área técnica da CVM, até mesmo a suposta indicação da
representante do conselho foi “uma manobra” de Passos “para dar um ar” de
veracidade à história.
Procurada, a
defesa de Passos não se manifestou.
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