Enel e a recusa às privatizações.
Reestatização
vem sendo levada a cabo em diversos países por causa da indignação da população..
O apagão na cidade de São Paulo vem
alimentando um intenso debate sobre a qualidade dos serviços prestados pela
multinacional italiana Enel.
Alvo de uma CPI na Assembleia Legislativa do
Estado de São Paulo, a empresa enfrenta agora uma nova CPI na Câmara Municipal da cidade,
uma ação da Prefeitura de São Paulo e
um inquérito instaurado pelo Ministério Público.
A
indignação causada pela falta de luz prolongada foi de tal monta que a população foi às ruas protestar. No dia 7, em
uma manifestação na avenida Giovanni Gronchi, zona sul da capital, moradores
atearam fogo em objetos e bloquearam as pistas nos dois sentidos.
Na região de
Cotia, na altura do km 32 da rodovia Raposo Tavares, os protestos ocorreram por
dois dias seguidos.
Não
foi a primeira vez que a empresa enfrentou revoltas populares.
Em 2019, em meio
a protestos que ocorreram no Chile, a sede da Enel em Santiago foi incendiada
devido aos altos valores cobrados por serviços ruins.
No mesmo ano, Ronaldo
Caiado (União Brasil), governador de Goiás, tentou cassar a concessão da Enel no
estado por conta da má qualidade dos serviços prestados.
Após
o apagão em São Paulo, Caiado declarou que a privatização das empresas de
energia não foi capaz de prestar bons serviços em nenhum estado.
A empresa
procurou se defender das críticas dizendo que a tempestade que ocorreu na
capital paulista foi imprevista.
Além disso, afirmou que os cortes que promoveu
no número de funcionários nos últimos anos, 36% desde 2019, não teriam afetado
a qualidade dos serviços prestados.
No
entanto, os argumentos apresentados pelo presidente do Sindicato dos
Eletricitários, Eduardo Annunciato, em entrevista ao
jornalista Leonardo Sakamoto, são bem mais convincentes.
Segundo Annunciato, o
sindicato já havia alertado a empresa que, caso houvesse um ciclone
extratropical, São Paulo poderia ficar uma semana sem luz.
Em sua avaliação, o problema reside na estratégia de redução
de gastos empregada pela Enel, que dobrou seu lucro desde que assumiu a
distribuição de energia em São Paulo.
Em vez de investir na manutenção preventiva da malha elétrica como um todo, a
empresa optou por religadores automáticos que isolam e fracionam defeitos da
rede.
O método pode funcionar bem em dias normais, mas não dá conta de eventos
climáticos de grandes proporções.
Além disso, a alta rotatividade dos
trabalhadores terceirizados da empresa faz com que sua mão de obra seja menos
qualificada para avaliar e atender problemas diversos.
FOLHA DE SÃO PAULO