CRISE ENERGÉTICA


Negacionismo do governo na crise de energia custará caro, dizem especialistas.

Criticado por protelar incentivo à economia de energia, ministério promete programa voltado à indústria nas próximas semanas.

Um mês após a criação do comitê de gestão da crise energética, a resposta do governo para enfrentar o risco de apagões ainda se limita a garantir a oferta de energia, sem programas voltados à economia no consumo.

O primeiro programa relacionado à demanda está em fase final de elaboração, diz o MME (Ministério de Minas e Energia), mas ainda não há prazo para começar a funcionar. 

Para especialistas, a estratégia é arriscada e deve pressionar ainda mais a conta de luz.

Em mesa redonda com a imprensa nesta terça-feira (27), especialistas do Instituto Clima e Sociedade classificaram a resposta do governo à crise como negacionista, por minimizar os riscos e evitar incentivos à economia de energia pela população.

"A gente vê ministros e outras figuras aparecendo e negando que estamos diante de um risco de racionamento e de apagões", disse a consultora do instituto, Amanda Ohara. "Se na pandemia, em que lidavam com vidas humanas, houve negação, imagina na energia, no início de um período eleitoral."

Especialistas no setor dizem que o deslocamento de demanda e a contratação emergencial de térmicas podem minimizar os riscos de 2021, mas não são suficientes para recuperar os níveis dos reservatórios para um 2022 menos dependente de chuvas.

Além disso, representam pressão adicional na conta de luz, já que os custos tanto das térmicas quanto da compensação às indústrias devem ser rateados por todos os consumidores.

"A pior coisa que o governo está fazendo no momento é não preparar os brasileiros para a situação difícil que vamos enfrentar", diz o físico José Goldemberg, ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo. "Pelo contrário, está tranquilizando as pessoas."



FOLHA DE SÃO PAULO
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