O Brasil
está alinhado ao debate internacional que procura dar sustentabilidade e adequação
aos sistemas de previdência pública e privada. As discussões travadas no âmbito
do sistema público e também do sistema de previdência complementar fechada
brasileiros mostram sintonia com as medidas discutidas e adotadas por diversos
países preocupados com o avanço dos indicadores de envelhecimento da população,
avalia o líder da área de consultoria e soluções em previdência para a América
Latina da Willis Towers Watson, Felinto Sernache Coelho Filho. Ele analisou as
perspectivas de aprimoramento da previdência complementar brasileira a partir
da experiência internacional, durante apresentação feita nesta
quinta-feira (24) no seminário Previdência Complementar - Perspectivas e
Desafios em Meio ao Atual Cenário Demográfico e Econômico Brasileiro, promovido
ontem pela Secretaria de Políticas de Previdência Complementar (SPPC) em
Brasília.
No mesmo
evento, em palestra dedicada ao tema “Cenário Econômico Atual do Brasil e as
Reformas Necessárias, com Foco na Reforma da Previdência”, o economista José
Márcio Camargo, professor titular da PUC-RJ, observou que o Brasil tinha
3 problemas no início deste ano e gradativamente os está encaminhando para uma
solução. A inflação caminha para ficar dentro da meta em 2017 e o déficit da
conta corrente cede até mesmo por conta da recessão, mas ainda falta desatar o
nó fiscal. “Enfim, estamos numa trajetória de melhora, mas ainda falta algo da
maior importância”, resumiu o economista.
Para
Camargo, para que o quadro efetivamente mude “será imprescindível a aprovação
da PEC do teto dos gastos do setor público e, na sequência, fazer a reforma da
Previdência”.
A questão
previdenciária - Diante do fato inexorável do aumento da
expectativa de vida, disse Sernache em sua apresentação, medidas como o
aumento da idade mínima para aposentadoria e incentivos necessários para a
formação da poupança previdenciária ganham espaço crescente nas discussões do
setor público e dos fundos de pensão, mas esse é um debate complexo que tem
produzido indicadores diferentes de sucesso em diversos países .
Estudos
feitos pelo centro de pesquisas internacionais da Willis Towers Watson, com
base no Reino Unido e no Uruguai, mostram a importância da adoção de medidas
adicionais ao mero aumento da idade mínima, diz Sernache.
Iniciativas
globais - As principais iniciativas adotadas pelos fundos de pensão
em todo o mundo tem sido a adesão automática; a flexibilidade no acesso parcial
aos recursos das contas antes da aposentadoria (resgate parcial); a
calibragem dos benefícios esperados de acordo com as variações da expectativa
de vida; ferramentas que induzam as pessoas a visualizarem o impacto de não
fazer poupança previdenciária e, finalmente, campanhas permanentes de educação
financeira e previdenciária. “Nada diferente do que já discutimos no Brasil”,
pondera o consultor.
Um
tópico, entretanto, que foi levantado pela pesquisa internacional e ainda
merece maior reflexão no Brasil diz respeito à questão do incentivo tributário
à previdência. “No momento está sendo feito um estudo junto aos países da OCDE
sobre a relevância efetiva desse tipo de incentivo como elemento de
convencimento em relação à previdência complementar”. As primeiras conclusões,
observa Sernache, permitem perceber que esse é um fator que impacta mais o
grupo de pessoas de renda mais alta e que precisa contar com o incentivo
tributário, observa Sernache.
Enquanto
pensam sobre como podem melhor utilizar o incentivo fiscal, alguns governos tem
preferido oferecer uma contrapartida em dinheiro, na contribuição, o que pode
ser também atrativo. “Esse é um ponto que está em estudos lá fora”,
resume Sernache.
Entre os
casos mais destacados no panorama mundial, ele destaca o modelo previdenciário
sueco que, embora seja de repartição simples, como o brasileiro, leva em
consideração contas individuais virtuais, ou seja, um saldo virtual que é
acompanhado durante todo o período anterior à aposentadoria. “O nível de
benefício desejado, ligado aos parâmetros salariais, é calibrado ao longo desse
período de acordo com a expectativa de vida e só será transformado em dinheiro
real no momento da aposentadoria”. Desse modo, diz o consultor, o governo não
corre o risco de se endividar porque o rebalanceamento constante do saldo
acompanha a expectativa de vida ano a ano. Outro caso interessante é o da
Alemanha, que passou a oferecer um bônus de 0,5% aos trabalhadores que
decidirem adiar sua aposentadoria, mesmo já tendo atingido o limite mínimo de
idade. “Os governos começam a perceber que é preciso adotar medidas que premiem
financeiramente a aposentadoria mais tarde”.
Na América Latina, por outro lado, há um caso nítido
de reversão das expectativas, que é o caso chileno. Tido até há pouco tempo,
ainda que por alguns poucos analistas em clara minoria, como um modelo de
migração para a contribuição definida, o sistema previdenciário chileno não tem
atendido às expectativas de renda da população, que reivindica o retorno ao
mutualismo, lembra Sernache.
Diário dos Fundos de Pensão