A nova rodada
de tarifas anunciadas pela administração do presidente dos Estados Unidos
Donald Trump surpreendeu os mercados e acendeu o alerta para uma possível
recessão no país e no cenário global. As medidas divulgadas na semana
passada são significativamente mais amplas do que as do primeiro mandato do
Republicano e fizeram as bolsas ao redor do mundo reagirem com quedas
acentuadas, refletindo o temor de uma desaceleração sincronizada das
grandes economias.
Desde fevereiro, o governo norte-americano elevou tarifas de forma
agressiva: 20% sobre todos os produtos chineses, 25% sobre os canadenses e
mexicanos fora do escopo do acordo comercial entre os EUA, México e
Canadá (USMCA na sigla em inglês), além de tarifas sobre aço, alumínio e
veículos.
Com o anúncio de tarifas “recíprocas” em abril, a cobrança efetiva média
sobre importações americanas deve saltar para 23% — o maior nível em mais
de um século. O aumento superou as expectativas do mercado e afeta China,
União Europeia, Japão, Vietnã e Índia com taxas superiores a 20%.
O impacto econômico esperado é de queda relevante no crescimento dos EUA,
com possibilidade real de recessão nos próximos trimestres. A inflação, por
outro lado, deve subir no curto prazo, pressionando o deflator do Índice de
Preços para Despesas com Consumo Pessoal (PCE) para níveis próximos a 4%.
O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve inicialmente
manter os juros estáveis, diante da incerteza sobre a persistência do
choque inflacionário. No entanto, nosso cenário-base é de cortes mais
adiante, à medida que a atividade mostre sinais claros de enfraquecimento.
Caso a confiança empresarial e o consumo sofram deterioração, mesmo uma
reversão parcial das tarifas pode não ser suficiente para evitar esse
movimento.
O cenário internacional volta, assim, a ganhar peso na formação de preços
de ativos no Brasil. O risco de desaceleração global mais forte — agora com
retaliações da China no radar — pressiona os juros americanos para baixo, o
que tende a aliviar parte da pressão sobre os juros domésticos. Por outro
lado, o aumento da aversão ao risco global pode levar à desvalorização do
real, limitando os efeitos positivos dessa reprecificação externa.
Diante desse novo equilíbrio, mantemos a projeção de Selic terminal em 15%
em 2025, com altas de 50 pontos-base em maio, e de 25 pontos-base em junho.
No entanto, retomamos o viés baixista para essa projeção, agora sustentado
principalmente pelo cenário externo. Seguimos atentos à evolução dos dados
de atividade global e às reações dos parceiros comerciais do Brasil frente
ao novo ambiente econômico.
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