Expectativa de que juros vão parar de cair leva a perdas em títulos do
Tesouro
Prefixados e atrelados à inflação têm
rendimento negativo, mas ficam atrativos para novas aplicações
A expectativa de que a alta do dólar
leve o Banco Central a interromper o ciclo de corte da taxa básica de juros no início de
2020 fez com que as taxas dos títulos públicos voltassem a subir,
após atingirem no início do novembro o menor patamar da história recente.
Toda vez que o juro do papel sobe,
seu valor de mercado cai. Com isso, ele fica mais atrativo para novas
aplicações, mas há uma perda para quem já tem o título na carteira.
Do ponto de vista de quem investe
nesses papéis, isso significa que essas aplicações financeiras chegaram ao
ponto de maior valorização por volta do dia 4 de novembro e, desde então, se
desvalorizaram.
O título IPCA+ 2045, por exemplo,
subiu de R$ 802 há cerca de um ano para R$ 1.524 no dia 4 de novembro,
valorização de quase 90% em 12 meses.
Na sexta-feira (29), estava em R$ 1.377,
queda de 10% desde a máxima recente.
Em termos de comparação, o título
atrelado à Selic se valorizou 6% nos 12 meses encerrados
em 4 de novembro e subiu mais 0,3% desde então. Esse último papel varia de
acordo com a taxa fixada pelo BC.
No título atrelado ao IPCA (assim como o prefixado),
a taxa varia de acordo com as estimativas do mercado para a Selic no futuro.
O mesmo ocorreu com alguns fundos de
renda fixa e multimercado, que fecharam o mês com rentabilidade negativa,
principalmente aqueles que haviam tido ganhos superiores a 10% no acumulado de
2019.
O pico de valorização dos títulos
prefixados e corrigidos pela inflação com prazos superiores a dez anos coincide
com a véspera da publicação da mais recente ata do Copom (Comitê de Política
Monetária), na qual o BC deu sinais de que promoveria apenas mais um corte nos
juros, de 5% para 4,5% ao ano.
Antes disso, parte do mercado
apostava que o BC poderia levar a taxa a 4% no início de 2020, expectativa que
mudou, como pode ser visto nas taxas de juros dos títulos federais.
No auge do otimismo com os juros
baixos, as taxas chegaram ao piso de 3% ao ano mais inflação para prazos de 15
a 25 anos. Agora, estão em 3,5% mais IPCA.
Nas aplicações de 5 a 10 anos, o
ajuste chega a 0,75 ponto percentual para cima, sinal de que os juros vão cair
menos agora e subir mais à frente.
Uma mudança na carteira dos
investidores no Tesouro Direto mostra que parte já trocou o alto risco e retorno
dos títulos atrelados à inflação pela segurança dos papéis corrigidos pela taxa
básica.
Os títulos Tesouro Selic representavam 26% do estoque em outubro de
2018 e estão agora com participação de 34%.
Os títulos corrigidos pelo IPCA, por
outro lado, tiveram seu peso reduzido de 59% para 48% no período. Os prefixados
passaram de 15% para 18%.
FOLHA DE SÃO PAULO