Crises desnecessárias podem reduzir clima de otimismo.
Polêmicas do governo podem paralisar
reformas, apontam analistas.
Economistas afirmam que o risco de
paralisação da agenda de reformas, o crescimento econômico menor que o esperado e
as falas polêmicas e atritos com o Congresso
podem reduzir o clima de otimismo com a economia brasileira, sobre o qual pesa
ainda a incerteza em relação ao desempenho econômico global.
O professor de Macroeconomia do
Insper João Luiz Mascolo afirma que o governo tem produzido novamente crises
desnecessárias que podem prejudicar o andamento das reformas e afetar as
expectativas para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2020.
“Todo mundo começou o ano mais otimista. Presumia-se que o caminho
estaria aberto para outras reformas. Agora, o questionamento voltou, todo mundo
fica mais cauteloso, e isso tudo retarda a arrancada que estávamos esperando”,
afirma Mascolo.
“Torço para que
esses ruídos, arroubos, sejam minimizados, esquecidos. Quem sabe o Carnaval
ajuda.”
Sobre o risco de o presidente Jair Bolsonaro
dar uma guinada populista na economia, ele afirma que não há mais espaço para
que esse tipo de política de estímulo dê resultado.
Afirmou que até a liberação do FGTS anunciada pelo governo no ano passado foi menos direcionada ao consumo
do que se esperava.
Sobre as declarações polêmicas de Guedes - professor de economia Fernando Botelho, da FEA-USP, afirma que elas
não ajudam na tramitação das reformas e que podem refletir um momento difícil
para o ministro.
“As declarações são mais um sintoma de uma situação pela qual ele deve
estar passando, de ter uma certa visão de que precisa continuar a fazer reformas,
mas não encontrar respaldo para isso na cúpula do governo”, diz o economista.
“O presidente teve uma postura corporativista por mais de 20 anos.
Convencer o Bolsonaro deve ser bastante difícil. Ele [Guedes] parece estar
impaciente. Talvez não esteja com tanto prestígio. Com a economia dando uma
pioradinha, talvez volte a ser ouvido.”
Em relatório divulgado nesta quinta-feira, a
consultoria LCA cita expectativa desfavorável para os ativos domésticos em
função de três fatores, a começar pelas falas de Guedes e do presidente do
Banco Central de que o real fraco não é um risco para a economia.
FOLHA DE SÃO PAULO