Previdência não combina com pressa
Ainda somos, no Brasil, reféns de um vício que custa caro: o
imediatismo.
Queremos resultados rápidos, ganhos fáceis e sem riscos de
preferência, e rentabilidades de vitrine.
Essa mentalidade, tão presente nas
finanças pessoais e até no debate público, é tudo o que a previdência não
precisa.
E nós, que fazemos parte desse setor, sabemos bem disso.
A previdência é o antônimo da pressa.
Quando o propósito é garantir
renda para daqui a 10, 20, 30 anos ou mais, olhar apenas o desempenho do mês
passado é como “dirigir olhando pelo retrovisor”, termo muito utilizado no
mercado.
Nosso papel, como gestores e técnicos, é justamente reforçar essa
cultura de longo prazo, mesmo quando o mercado insiste em testar a paciência do
participante de um plano de previdência.
Os dados confirmam o que a experiência já mostrou: perfis de
investimento voltados ao longo prazo superam os conservadores porque atravessam
diferentes ciclos da economia e aproveitam melhor oportunidades de valorização,
em ações, títulos indexados à inflação de vencimentos mais longos e fundos
multimercado, por exemplo.
Ainda assim, vemos participantes que trocam de
perfil a cada oscilação,
interrompem ou reduzem contribuições nas quedas momentâneas ou perseguem
rentabilidades “da moda".
”Esse comportamento revela uma falha que o setor precisa enfrentar: a
educação financeira ainda não chegou de forma estruturada à base da população.
A intenção não é simplificar o debate nem atribuir as escolhas dos
participantes exclusivamente à falta de educação financeira.
É preciso reconhecer que fatores como renda insuficiente, instabilidade
econômica recorrente, baixa confiança nas instituições e até o excesso de
informações desencontradas também influenciam fortemente as decisões
financeiras.
Como nem tudo está sob nosso controle, é preciso direcionar os esforços
para aquilo em que realmente podemos contribuir nesse momento.
O desafio é cultural, mas está em nossas mãos ajudar a superá-lo.
Informação, consistência e transparência são os melhores antídotos
contra a pressa.
Afinal, a previdência existe para trazer bem-estar hoje e proteger o
amanhã e cabe a nós garantirmos que essa mensagem continue clara, mesmo quando
o imediatismo grita mais alto.
Vinicius Narcizo é diretor de Investimentos e Finanças da Vexty
PREVDIGEST