O que se sabe do plano de golpe para Bolsonaro após revelações da
Polícia Federal.
Segundo decisão do ministro Moraes, ex-presidente
teve acesso e pediu mudanças na chamada 'minuta do golpe'.
A Polícia Federal cumpriu na manhã desta quinta-feira (8) mandados
de busca e prisão contra ex-ministros de Jair Bolsonaro (PL) e militares envolvidos na suposta tentativa de golpe para manter o ex-presidente no poder. Um dos
alvos foi o próprio Bolsonaro, que entregou seu passaporte para a PF.
MINUTA DO GOLPE
Em sua decisão que autoriza a operação, o
ministro Alexandre de Moraes (STF) afirma que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve
acesso e pediu modificações na chamada
"minuta do golpe".
Bolsonaro teria recebido do ex-assessor Filipe
Martins e do advogado Amauri Feres Saad uma minuta de decreto para executar um
golpe de Estado, com a decretação de prisão de várias autoridades, como do
próprio Moraes e do ministro Gilmar Mendes, também do STF, além do presidente
do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Segundo as informações coletadas pelas
investigações, foram realizadas alterações no texto a pedido de Bolsonaro,
permanecendo a determinação de prisão de Moraes e a realização de novas eleições.
ATUAÇÃO DE MILITARES
Três militares até então pouco citados no
noticiário foram alvo de mandados de prisão.
O major Rafael Martins de Oliveira
teria direcionado os manifestantes para locais como o STF e o Congresso
Nacional e realizado a coordenação financeira e operacional para dar suporte
aos atos antidemocráticos.
Após o segundo turno, o coronel Bernardo Romão
Correia Neto teria organizado reunião com militares formados no curso de Forças
Especiais (Kids Pretos), o que, segundo a PF, demonstrou planejamento para
utilizar técnicas militares contra o próprio Estado brasileiro.
No mesmo dia, Neto teria enviado ao tenente-coronel
Mauro Cid uma minuta intitulada "Carta ao Comandante do Exército de
Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro", documento que, de
acordo com a PF, foi provavelmente discutido na reunião e utilizado como
instrumento de pressão contra o então comandante do Exército, general Freire
Gomes.
Já o coronel Marcelo Costa Câmara teria ficado
responsável por um núcleo de inteligência não oficial de Bolsonaro, atuando na
coleta de informações sensíveis e estratégicas.
PRISÃO DE MORAES
Mensagens trocadas entre o coronel Marcelo Câmara,
preso nesta quinta, e o tenente-coronel Mauro Cid em dezembro de 2022 indicam,
segundo a PF, que os dois estavam monitorando os passos do ministro Alexandre
de Moraes, com a intenção de prendê-lo para tentar dar um golpe de Estado.
O plano, segundo as investigações, era prender
Moraes no dia 18 de dezembro.
Com ajuda de outras pessoas, o tenente-coronel
Mauro Cid monitorou a agenda e o deslocamento de Moraes,
segundo consta em documentos da Operação Tempus Veritatis.
As mensagens que discutem o monitoramento estavam
no celular de Mauro Cid, que fechou acordo de delação premiada.
OFICIAIS-GENERAIS GOLPISTAS
A Polícia Federal encontrou uma série de mensagens nos
celulares do tenente-coronel Mauro Cid e de outros investigados que mostram que
ao menos cinco oficiais-generais das Forças Armadas discutiram com o
ex-presidente a edição de um decreto golpista contra a eleição de Lula (PT).
Cinco oficiais-generais de quatro estrelas –o topo da
carreira militar– foram atingidos pela operação da Polícia Federal: os generais de Exército
Braga Netto (candidato a vice-presidente de Bolsonaro em 2022), Augusto Heleno
(ex-ministro do GSI), Estevam Teophilo (ex-chefe do Coter, Comando de Operações
Terrestres) e Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e o almirante Almir
Garnier (ex-comandante da Marinha). Todos estão na reserva. Theophilo foi o
último a deixar a ativa –comandou o Coter até 1º de dezembro de 2023.
'CANETADA' DE BOLSONARO
A Polícia Federal afirma que mensagens encontradas
no celular de Mauro Cid indicam que o general Estevam Theophilo teria
concordado em executar as medidas que culminariam no golpe de Estado, desde que
Bolsonaro assinasse o decreto que vinha sendo debatido.
Theophilo foi chefe do Comando de Operações
Terrestres do Exército até 1º de dezembro de 2023, dia em que realizou
cerimônia para ir à reserva remunerada da Força.
BRAGA NETTO INDIGNADO
Mensagens obtidas pela Polícia Federal mostram
que Braga Netto teria chamado o então
comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, de "cagão" por
não aderir à tentativa de golpe.
Em outras conversas, o general incentiva críticas
ao então comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, a quem
se refere como "traidor da pátria".
Segundo a PF, as mensagens foram enviadas por Braga
Netto para Ailton Barros, capitão expulso do Exército que estimulava um golpe
militar em conversas com Mauro Cid.
ESTADO DE SÍTIO
Durante a busca e apreensão na sede do PL, os
policiais encontraram, no gabinete de Bolsonaro, um documento não assinado com
justificativa para a decretação de estado de sítio no país.
"Afinal, diante de todo o exposto, e para
assegurar a necessária restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil,
jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas, com base em
disposições expressas da Constituição Federal de 1988, declaro o estado de
Sítio (sic) e, como ato contínuo, decreto operação de garantia da lei e da
ordem", diz o texto.
O documento é similar a um encontrado no celular de Cid ainda em 2023.
FOLHA DE SÃO PAULO