“A
Abrapp mostra-se fundamental especialmente em momentos como este que
atravessamos, em que a previdência ocupa o centro do debate e o nosso sistema
tem diante de si não apenas a oportunidade, mas especialmente a necessidade de
reencontrar o caminho de crescimento em número de entidades e planos”, observou
o Diretor Dante Scolari logo na abertura ontem, em Brasília, do Encontro
Regional Centro-Norte 2017. O público presente, mais de 2 centenas de
dirigentes e profissionais de associadas, funcionou como a melhor prova do
muito que as entidades compreendem a importância de uma vida associativa
intensamente participativa. Ao seu lado ao abrir os trabalhos, o Presidente
Luis Ricardo Marcondes Martins completou o raciocínio notando que o
protagonismo da Associação e de suas associadas de fato está sendo mais uma vez
comprovado nessa hora em que dificuldades e oportunidades se misturam, mas isso
não dispensa, ao contrário, faz ainda mais necessário que o Governo se mostre
também protagonista. O também Diretor Erasmo Cirqueira Lino acrescentou:
“o trabalho conjunto, fortemente compartilhado, motiva e fortalece a todos”.
O
Presidente Luís Ricardo, porém, lamentou a distância que o Estado
brasileiro ainda se encontra desse protagonismo. “Não vemos no Estado brasileiro
uma agenda para o fomento de nosso Sistema, apesar de o Brasil ser o segundo
País que menos poupa na América Latina e um dos que menos o faz no mundo. Notou
em seguida que essa falta de ação é ainda mais difícil de entender
considerando o muito que os fundos de pensão podem fazer em favor de um
maior número de trabalhadores e pelo País. “Os fundos de pensão são claramente
parte da solução para os problemas brasileiros e, nunca, parte do
problema”, resumiu Luís Ricardo, lembrando que as nossas entidades
desembolsam anualmente mais de R$ 42 bilhões no pagamento de benefícios a
um contingente superior a 700 mil pessoas.
Haveria
espaço, no seu modo de entender, para um repensar do modelo previdenciário do
País, com o aparecimento de um segundo pilar de capitalização obrigatório, além
da manutenção do voluntário como existe hoje, entre outros pontos sobre os
quais seria possível pensar. Contudo, em face das resistências políticas
existentes, a Abrapp escolheu aguardar um novo momento em que se torne possível
esse debate amplificado, e apóia o projeto paramétrico de reforma da
Previdência conforme foi apresentado pelo Governo, com a única exceção da
redação do § 15 artigo 40, cuja proposta tenta estabelecer uma concorrência
desigual no âmbito da previdência complementar.
Estímulos
necessários - Luís Ricardo sublinhou ainda a
necessidade de que sejam concedidos incentivos fiscais, entre outros vários
estímulos que precisam estar presentes em uma política pública efetivamente
fomentadora de nosso Sistema e cujas linhas gerais ele desenhou ao falar para
os dirigentes de associadas da Centro-Norte.
No
evento, que contou com o patrocínio da BRAM – Bradesco Asset Management e
Mongeral Aegon (plus); BlackRock, Itaú e Santander Asset Management (basic); Banco
ABC Brasil, StepStone e i9 Advsory (co-patrocínio), todo um painel foi
dedicado à exposição que o Superintendente-geral, Devanir Silva, fez do
“Planejamento Estratégico da Previdência Complementar 2017-2019”. Em linhas
gerais, mostrou principalmente que a previdência complementar fechada quer
dobrar em 3 anos o contingente de participantes de planos, que
subiria dos atuais 2,5 milhões para 5 milhões. E isso num espaço relativamente
curto de tempo.
Explicou
que figuram na agenda como objetivos prioritários desenvolvermos uma visão
inovadora (aproveitar a reforma para reposicionar o modelo, buscar sinergia com
o mercado e fortalecer os laços com a comunidade internacional), fomentarmos a
cultura previdenciária (criarmos um novo valor para as entidades e planos e
desenvolvermos uma comunicação nova em todos os sentidos), conservarmos as
conquistas e trabalharmos por novos avanços (usar as reformas como oportunidade
para fazer pensar sobre a previdência complementar, buscando entre outras
coisas os necessários incentivos fiscais) e, por fim, ampliarmos a governança e
a qualificação (qualificarmos cada vez mais pessoas e processos, avançarmos com
a autorregulação e valorizarmos o ato regular de gestão, ao mesmo tempo em que
desenvolvermos mais e mais o ambiente associativo.
Ouvir
as associadas - Três presidentes - Luís
Ricardo Marcondes Martins (Abrapp), Jarbas de Biagi (Sindapp) e Vitor Paulo
Camargo Gonçalves (ICSS) - ficaram à disposição das associadas, no
painel “Momento de Trocar para Somar-Ouvindo o Sistema”, para esclarecer e
dialogar, principalmente ouvir as associadas.
Jarbas
de Biagi salientou inicialmente a importância de o sistema e seus dirigentes
estarem cada vez mais fortes e qualificados, uma vez que no seu modo de
entender essa força e qualificação ajudam sobremaneira à defesa dos atos
regulares de gestão, algo a que o Sindapp se dedica como uma de suas principais
tarefas. Por sua vez, Vitor Paulo sublinhou a necessidade de o ICSS e a Previc
estarem atuando cada vez mais em conjunto em prol do aperfeiçoamento dos
processos de certificação e habilitação.
Luís
Ricardo, juntamente com os demais presidentes, atuou intensamente nas conversas
que se estabeleceram a seguir e que giraram sobre pontos como a
relevância da busca do fomento e a consequente procura de melhoria da
imagem pública do sistema, aprimoramento do trabalho de comunicação,
estabelecimento da adesão automática e desenvolvimento de novas ferramentas
para atrair e conservar participantes, os custos crescentes atribuíveis à forma
de atuar da Previc, novas soluções para a tributação dos participantes de
planos instituídos e luta por planos e produtos cada vez mais simples.
Seguiu-se
o painel “A Reforma da Previdência e as Oportunidades para a Previdência
Complementar”, que apontou os planos dos servidores públicos, os
setoriais e os instituído como as 3 principais estradas que se abrem para o
fomento das entidades fechadas. Altamir Lopes, membro do Conselho
Deliberativo da Abrapp, alertou que da forma como caminha a reforma da
previdência não deverá resolver por muito tempo os problemas que se acumulam.
Daqui a pouco, advertiu, provavelmente será preciso fazer uma nova reforma. Na
linha do que a Abrapp defende, inclusive, disse que melhor seria estarmos
fazendo uma mudança do modelo e não apenas paramétrica. Por outro lado, Altamir
mostrou-se preocupado com o fato de aparentemente tantos jovens não estarem
contribuindo hoje nem para a Previdência Social nem para a Complementar, o que
deverá acarretar graves problemas para o futuro. O remédio é apelar o mais
rapidamente possível para um programa de educação financeira e previdenciária.
Espera uma reforma estrutural, tão logo isso se mostre possível.
A
reforma deve abrir a possibilidade de adesão de cerca de dois mil entes
federativos ao regime de previdência complementar, estimou o subsecretário do
regime de previdência complementar, Paulo César dos Santos. “Apenas oito
estados já oferecem a previdência complementar para seus servidores. Em pouco
tempo serão dois mil entes públicos que deverão oferecer planos de previdência
complementar”, disse Santos.
Paulo
César elogiou a iniciativa do fundo de pensão de São Paulo de buscar novos
patrocinadores fora do Estado e incentivou que outras entidades fechadas também
sigam esse exemplo para elevar a adesão de entes públicos, instituidores e
participantes.
“Não
devemos ficar esperando eles virem até nós. Temos que ir até eles”, defendeu o
subsecretário. Ele incentivou ainda a criação de novas modelagens de planos
mais adaptadas às necessidades do mercado de trabalho atual.
José
Roberto Ferreira, sócio-diretor da Rodarte Nogueira e Ferreira, seguiu por uma
outra vertente em cujo potencial a Abrapp aposta. Trata-se dos planos
instituídos setoriais oferecidos para associações e entidades de classe. “Os
planos instituídos setoriais representam um divisor de águas para retomar o
crescimento do sistema”, disse José Roberto.
Ferreira
comentou a proposta de criação de um plano setorial instituído pela própria
Abrapp. A associação pretende implantar um plano setorial no qual as entidades
fechadas poderão participar como afiliadas. A Abrapp terá o papel de
instituidora e suas associadas poderão aderir ao plano para oferecer aos
dependentes dos participantes.
O
novo projeto da Abrapp tem prazo de implantação até agosto de 2017. O projeto
inclui a seleção de um fundo de pensão já existente para administrar o plano de
benefícios, que será do tipo contribuição definida.
Maior
risco com mais retorno - O novo ciclo de
corte de juros da economia brasileira deve levar os fundos de pensão a buscar
alternativas de maior risco e maior retorno nas aplicações. Esse foi o ponto
central discutido pelos participantes do painel “Dinâmica dos Mercados: Foco em
Oportunidades”. Luís Guedes, superintendente de renda variável da Bram –
Bradesco Asset Management, indicou que o momento do mercado deve levar ao
aumento da exposição à bolsa. “É o momento de aumentar a renda variável?
Acreditamos que sim. As reformas avançaram bastante e há um processo de
ancoragem de inflação, com a perspectiva de taxa de juros de um dígito”, disse Guedes.
Rodrigo
Araújo, diretor comercial da BlackRock, ressaltou a importância não apenas da
alocação em diferentes classes, mas a utilização de estratégias dinâmicas de
investimentos para capturar melhores retornos com riscos mais controlados.
“Hoje o mercado tem estratégias dinâmicas como smart beta para capturar
crescimento na renda fixa ou variável”, disse Araújo. O executivo recomendou
ainda a busca de utilização de estratégias ativas e passivas (beta) para obter
maior eficiência de custo nas aplicações.
Alexandre
Cruz, Gestor de Renda Variável da Santander Asset Management, concordou com a
recomendação de aumento da renda variável. “Hoje já temos projeções do Ibovespa
em 85 mil pontos. Mas a tomada de decisão não pode demorar muito, sob risco de
perder a mão”, disse o gestor. Ele acredita que a bolsa deve gerar nos próximos
meses retorno maior que outras classes de ativos como multimercados e renda
fixa.
André
Dabus Salomão, Diretor Geral da Kinea Asset Management, orientou os seus comentários na direção dos investimentos
estruturados e imobiliários, dois segmentos que estiveram entre os mais
afetados pelas dificuldades enfrentadas pelo economia brasileira. Observou,
porém, que com a recuperação ainda que lenta do ambiente econômico,
acompanhada do declínio da taxa de juros, ambos os mercados talvez venham a
merecer outra vez a atenção dos fundos de pensão.
Fábio
de Sousa Coelho, diretor superintendente substituto da Previc, abordou os temas
da governança e autorregulação dos fundos de pensão, em sua participação no
painel “Governança de EFPC: Revendo Conceitos, Revitalização e
Aperfeiçoamentos”. Em relação à autorregulação, ressaltou a importância do
trabalho da Abrapp e a escolha da governança dos investimentos como primeiro
item do novo código da associação, uma vez que é ali que geralmente se
encontram os maiores riscos.
“A
principal fonte de risco tem origem no processo decisório de investimentos”,
disse o titular da Previc. Ele ainda explicou o novo desenho da Previc a nova
divisão de diretorias. A principal novidade é a criação de uma diretoria de
normas, que deve ampliar o poder de discussão sobre o arcabouço normativo do
sistema.
Adriana
de Carvalho Vieira, coordenadora da Comissão Técnica Nacional de Governança da
Abrapp, também tratou da governança das entidades fechadas e alertou para os
problemas do projeto de lei 268, que tramita no Congresso Nacional. “Um dos
pontos críticos é a oneração da estrutura dos fundos de pensão com a
contratação de diretores através de processo seletivo”, disse Adriana. A
profissional comentou ainda que a medida não garante a blindagem do comando dos
fundos de pensão a problemas com os profissionais.
Fernanda
Mandarino Dornelas, advogada e assessora jurídica da Previnorte, focalizou o
funcionamento da Câmara de Recursos da Previdência Complementar (CRPC) e a
defesa do “Ato Regular de Gestão”. Fernanda é representante de
patrocinadores e instituidores na CRPC e ressaltou a crescente importância que
a argumentação com base técnica vem adquirindo nos julgamentos da Câmara.
A transferência de
risco de planos de benefícios de entidades fechadas para as seguradoras foi o
assunto tratado por Andrea Levy, consultor da Presidência da Mongeral Aegon.
Aproveitando a experiência de mercados mais desenvolvidos, o especialista
explicou os principais mecanismos de terceirização do risco dos planos para o
mercado segurador. As regras para a transferência de risco estão em fase final
de elaboração pelos órgãos reguladores do mercado brasileiro.
Diário dos Fundos de Pensão