Para mim,
já virou rotina: é só o final do ano chegar que encontro várias pessoas
buscando uma opinião sobre o uso de seus décimo-terceiros salários para um
aporte em plano de previdência complementar. No ano passado tive a
sensação de aumento da procura – indivíduos, em geral, preocupados com a reforma
da previdência social, com o momento econômico do país e com a formação ou
aumento de seus patrimônios.
Neste mês
de março, com a liberação de saldos de contas inativas do FGTS e também com
alguns (poucos) felizardos tendo acesso a suas bonificações / PLRs de 2016,
voltei a ouvir a mesma pergunta:
A
Previdência Complementar é um bom investimento?
Respondê-la
de forma definitiva exigiria uma consultoria personalizada para cada caso e
indivíduo, provavelmente acompanhada de um disclaimer maior do que o espaço que
possuo neste artigo. Portanto, meu objetivo hoje é apenas fornecer um conjunto
de orientações que considero úteis para aqueles que eventualmente se acometem
da mesma dúvida. Lembre-se que aqui queremos focar especialmente nos aportes esporádicos,
que são possíveis tanto em planos de previdência complementar aberta
(PGBL/VGBL) como nos planos CD e CV da previdência complementar fechada (Fundos
de Pensão), e não nas contribuições normais feitas mês a mês pelos que já
contam com um plano de previdência.
Dito
isto, vamos nos concentrar em três características centrais de análise:
1. Seu
objetivo com o investimento
Antes de
tudo, faça a si mesmo algumas perguntas que lhe ajudarão a saber se a
Previdência Complementar é aderente às suas expectativas.
– Por
quanto tempo posso deixar o recurso aplicado?
– Qual a
probabilidade de eu precisar resgatá-lo antes desse tempo?
– Que
nível de rentabilidade espero obter em meu investimento?
A
previdência complementar possui características que favorecem a manutenção do
recurso investido por um longo prazo. Mesmo assim, muitos planos permitem
resgates parciais ou mesmo totais antes de se aposentar – é fundamental
conhecer as regras e carências aplicáveis para acesso ao valor aplicado.
Também
não é objetivo de um plano de previdência obter rentabilidades arrojadas, e sim
manter uma caminhada sólida e consistente ano após ano em direção à formação de
uma poupança para aposentadoria.
Se tais
preceitos fazem sentido para você, um plano de previdência possivelmente lhe
servirá bem.
1. Estratégia
tributária
Se bem
compreendido e utilizado, uma das vantagens dos planos de previdência complementar
é o conjunto de incentivos tributários existentes. Vamos comentar os principais
aspectos a seguir:
–
Ausência de come-cotas
Em fundos
de investimento tradicionais, o imposto de renda sobre os rendimentos é, a cada
semestre, descontado automaticamente do saldo depositado. Isto reduz o valor
investido, que é base de cálculo para juros futuros. Já em planos de
previdência, a incidência do IR é apenas ao final, no resgate ou pagamento de
benefício. Com isto, todo o valor investido e os respectivos ganhos permanecem
provendo novos rendimentos durante a totalidade do período investido. Quanto
maior o prazo da aplicação, maior o ganho.
–
Contribuições podem ser abatidas na declaração anual do IR
Até o
limite de 12% da renda bruta anual, contribuintes que realizam a declaração
completa podem reduzir o IR a pagar (ou aumentar o IR a restituir, conforme o
caso) descontando da base de cálculo o valor depositado em previdência. Nota:
aplica-se apenas a PGBL e a planos de previdência complementar fechada, ou
seja, não inclui planos VGBL.
– Alíquotas
de Imposto de Renda reduzidas, na tabela regressiva
Na
previdência complementar, o contribuinte pode optar pelas tabelas progressiva
ou regressiva. No segundo caso, a alíquota pode chegar a 10% após dez anos de
aplicação – fundos de investimentos tradicionais possuem um piso um pouco
superior, de 15%, atingido após dois anos. Vale lembrar que, em planos PGBL ou
de previdência complementar fechada, o Imposto de Renda incide sobre o valor
total do ou do benefício pago, de acordo com a tabela escolhida (progressiva ou
regressiva). Já em planos VGBL o IR incide apenas sobre a parcela dos
rendimentos.
1. Rentabilidade
e taxas incidentes
Tal como
fundos de investimento, os planos de previdência complementar contam com gestão
profissional, podendo aplicar seus recursos em segmentos diversos como renda
fixa e variável, imóveis, participações em empresas e até mesmo em fundos no
exterior, a depender da política de investimento e das limitações legais
existentes. Alguns planos oferecem ao contribuinte a opção por perfis de
investimento, que permitem a escolha de portfólios do mais conservador ao mais
arrojado.
O risco
de investimento associado a essas aplicações é equivalente ao das posições
detidas pelo plano. Portanto, opções que invistam em renda variável, por
exemplo, tendem a sofrer maior volatilidade que aqueles concentrados apenas em
renda fixa.
Segundo
dados da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência
Complementar, a ABRAPP, os planos de previdência fechados terminaram 2016 com
uma rentabilidade média de 14,86%[1], o
equivalente a 106% do CDI no ano – este o principal benchmark de mercado para
investimentos em renda fixa e usualmente associado a aplicações de perfil
conservador e de longo prazo.
A ABRAPP
consolida diversas estatísticas interessantes do setor, incluindo em seu site um ótimo consolidado em que a
rentabilidade média de planos de previdência complementar fechada (linha azul)
é comparada aos benchmarks CDI e TJP* (linhas verde e vermelha,
respectivamente) nos últimos quinze anos:
Não há
estatísticas públicas consolidadas a respeito da rentabilidade média de planos
de previdência aberta (PGBL/VGBL), mas as seguradoras disponibilizam o
histórico de seus produtos aos interessados, mediante solicitação.
Outro
quesito que deve ser analisado pelo propenso investidor é a incidência de taxas
de administração e de carregamento. A primeira usualmente se aplica ao total do
recurso investido, enquanto a segunda sobre os valores aportados. Há muitas
opções de planos disponíveis no mercado, então recomendo realizar ampla
pesquisa e negociação para obter as taxas mais competitivas.
Em
resumo…
Planos de
previdência complementar podem se constituir em interessantes alternativas para
o investidor que possui um recurso extra para aplicação, desde que se analise
bem as características, tributação, rentabilidade e taxas aplicáveis ao
produto.
Portanto, é importante avaliar com cuidado as ofertas
para substituir as aplicações por outras opções de mercado por planos de previdência,
principalmente se o horizonte for de curto prazo.
Guilherme Brum Gazzoni- Gama