Foi uma excelente reunião, especialmente porque encontramos
do outro lado um interlocutor sensível e interessado na mensagem que lhe foi
levada pela Abrapp e que se mostrou disposto a acompanhar de perto a evolução
do sistema fechado de previdência complementar, contribuindo sempre que
possível”. Essa foi a impressão deixada no Presidente Luís Ricardo Marcondes
Martins pelo encontro que teve na última terça-feira (24), em Brasília, com o
Secretário-Executivo do Ministério da Fazenda, Eduardo Guardia. Luís Ricardo,
que estava acompanhado pelo Diretor Dante Scolari e o Superintendente-geral da
Abrapp, Devanir Silva, declarou a sua satisfação em especial por acreditar que
como consequência o esforço de fomento do número de entidades e de planos sairá
fortalecido. “Isso vai levar, é o que esperamos, o governo a ajudar como
verdadeiro protagonista”.
Luís Ricardo lembrou conversa havida há mais tempo com o
Secretário de Previdência, Marcelo Caetano, dentro desse mesmo espírito.
Naquela ocasião, como agora, prevaleceu a ideia da cooperação e do
reconhecimento da importância da previdência complementar fechada, ainda que a
prioridade do governo nesse momento seja naturalmente a aprovação da reforma da
Previdência. Esta, aliás, a Abrapp deixou claro apoiar, ainda que o
cenário político esteja restringindo o debate a medidas pontuais e impedindo a
discussão agora de mudanças mais amplas no próprio modelo previdenciário.
No mesmo dia, na parte da tarde, o Presidente Luís Ricardo
Marcondes Martins reuniu-se com o Deputado Arthur Maia (PPS-BA), vice-líder do
governo na Câmara e futuro relator da PEC 897 na Comissão Especial sobre a
Reforma da Previdência. O relato da reunião, avaliada também como muito
positiva, encontra-se mais abaixo.
Muitos números - Luís Ricardo
iniciou a reunião com Eduardo Guardia fornecendo vários números que mostram o
nosso sistema cumprindo de forma estável com os seus compromissos, a começar da
forma regular com que paga mais de R$ 30 bilhões anualmente em benefícios a um
contingente superior a 700 mil aposentados e pensionistas. Uma importante
missão, porém, que está ameaçada na medida em que a previdência complementar
fechada deixou de crescer. Com isso, não consegue ampliar o número de 2,6
milhões de trabalhadores e profissionais liberais que dela participam, se vendo
por outro lado diante do risco de ter de desinvestir recursos já alocados nos
mais diferentes ativos, em prejuízo do esforço de ver a economia brasileira
retomar o crescimento.
Tal falta de crescimento do sistema, continuou Luís Ricardo
em sua reunião na Fazenda, é que fez a Abrapp agir propondo ao País o Plano
de Fomento da Poupança Previdenciária, que já começa a ser implementado e
tem potencial para transformar essa realidade. “Com isso o Brasil ganhará nas
duas esferas, a social e econômica, uma vez que estará protegendo a renda
futura dos aposentados e multiplicando a poupança geradora de prosperidade”,
resumiu o Presidente da Abrapp.
Ele ainda lembrou que apenas na esfera social as vantagens
são duas: os aposentados e pensionistas têm a sua renda preservada e o governo
(INSS) deixa de ver recair sobre os seus ombros a responsabilidade de ser o
único a cuidar dessa proteção aos trabalhadores na aposentadoria.
Destravar o potencial - Políticas
públicas de fomento ao sistema, se adotadas, terão todas as condições de
destravar um potencial reconhecidamente grande. E conseguir isso a um custo
comprovadamente modesto, uma vez que resultados ainda preliminares de estudos
que vão sendo realizados pelo Instituto de Economia Brasileira (IBRE) da FGV já
começam a mostrar, conforme observado por Luis Ricardo na reunião, que
“incentivos fiscais a serem concedidos significarão renúncias fiscais irrisórias,
uma vez que o governo irá ganhar muito mais contando com uma poupança interna
realmente capaz de ajudar a ativar a economia”. Hoje, recai quase que
exclusivamente sobre os ombros do BNDES, com recursos do Tesouro Nacional, esse
papel de ativador.
Atualmente, os quase R$ 800 bilhões em ativos sob gestão
pelos fundos de pensão brasileiros representam uma fatia ao redor de 13% do PIB
nacional. Se adequadamente fomentado, previu Luís Ricardo, esse valor poderá
chegar em não muito tempo aos 25%. É possível atingirmos R$ 2 trilhões no
espaço de não muito mais que uma década.
As estatísticas mostram existirem perto de 3,7 milhões
de brasileiros potencialmente em condições de ingressar em fundos de pensão,
uma vez que apesar de terem uma renda superior ao teto da Previdência Social
ainda estão fora do sistema. Num cálculo modesto, é razoável supor que metade
deles poderia muito bem tornar-se participantes de um plano. Ajuda nisso o fato
de 1,2 milhão terem carteira assinada e que, por conta disso, podem ser
mais facilmente atraídos, desde que, é claro, as empresas em que trabalham
sejam incentivadas, por políticas tributárias adequadas, a oferecer planos de
previdência complementar.
Importância do CNPC - Lembrou ainda
que, tendo o Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) nascido,
segundo determina a lei, para regular o sistema, é fundamental que participe de
forma ativa desse esforço de fomento. Deve participar não apenas ativamente,
como fazê-lo assumindo o seu papel de pensar estratégicamente e não só de forma
operacional.
Nesse ponto da conversa, Luís Ricardo sublinhou o intuito da
Abrapp de levar à próxima reunião do CNPC, em março, proposta de adoção do
mecanismo de “inscrição automática” para todas as vertentes do sistema e, não
apenas como é hoje, para entidades de servidores públicos. Antes de ser levada
ao Conselho, a iniciativa será discutida com os demais representantes da
sociedade civil no CNPC, para que se tenha um alinhamento das posições.
Guardia reagiu muito positivamente às nossas observações
quanto ao olhar estratégico reservado ao CNPC, mostrando igual interesse no que
diz respeito ao propósito de levarmos proposta de adoção da “inscrição
automática” à próxima reunião do Conselho, em março.
Luís Ricardo concluiu pregando uma efetiva transformação da
Previc em órgão do Estado, conforme as expectativas existentes ao tempo
em que foi criada, há pouco mais de 6 anos, quando se pensava em chegar a uma
autarquia dotada de efetiva autonomia.
Reação ao diagnóstico - O Plano de
Fomento da Poupança Previdenciária é uma reação ao diagnóstico de baixo ou
quase nenhum crescimento do sistema em suas várias vertentes (algumas crescem,
mas em seu conjunto não há expansão), situação que se arrasta há mais de uma
década. A iniciativa aglutina ações concretas em resposta a esse quadro
de coisas, mas é também uma proposta à sociedade brasileira para que entenda
ser a previdência complementar fechada a melhor resposta a dois desafios
simultâneos, de um lado a proteção da renda do trabalhador no momento da
aposentadoria e, de outro lado, a tão necessária ampliação da poupança interna
para que o País possa voltar a investir e criar prosperidade.
O que as estatísticas mostram nos últimos 5 anos é um pequeno
decréscimo no número de entidades, um aumento modesto na quantidade de planos e
praticamente uma estabilidade no contingente de participantes. O crescimento
restringiu-se, pode-se dizer, aos segmentos instituídos e de previdência
complementar dos servidores.
No momento, a Abrapp, ao mesmo tempo em que conversa com o
Banco Mundial e providencia a atualização e a abertura de novas frentes em
estudos realizados por instituições acadêmicas contratadas, busca ver a
implementação do Plano apoiada pelos parceiros naturais do sistema, aqueles que
mais se beneficiarão da alavancagem fruto da expansão da poupança
previdenciária, mais que qualquer outra disponível de forma estável no longo
prazo. Dela se beneficiarão em especial instituições financeiras e empresas que
atuam nos mais diferentes mercados em que os recursos assim poupados podem ser
alocados. Mas estão nesse caso também associações e organismos nacionais e
internacionais igualmente interessados no crescimento de reservas logo
transformadas em investimentos e prosperidade.
O Plano traz 5 focos, cada um pormenorizadamente expostos na
ampla divulgação que o documento vem recebendo. Somando focos e vetores
chega-se a 66 macro ações perfeitamente definidas.
Audiência com o futuro relator - No mesmo dia, na parte da tarde, o Presidente Luís Ricardo
Marcondes Martins reuniu-se com o Deputado Arthur Maia (PPS-BA), vice-líder do
governo na Câmara e futuro relator da PEC 897 na Comissão Especial sobre a
Reforma da Previdência . Luís Ricardo, acompanhado do Diretor Dante
Scolari, do Superintendente-geral, Devanir Silva e da assessora parlamentar,
Tarciana Xavier, fez uma ampla apresentação da Abrapp. Notou que a Associação,
por se constituir em um centro de excelência técnica, tem todas as
condições de subsidiar os trabalhos parlamentares com todo tipo de análise e
informação, algo reforçado pelo fato de poder contar também com o acervo de
conhecimento reúnido pela UniAbrapp, além do apoio do Sindapp e ICSS.
Colocou ainda à disposição do parlamentar a Assessoria
Parlamentar da Abrapp, capaz de agilizar informações e a chegada de todo tipo
de material de leitura e reflexão, a título de subsídio.
Luís Ricardo destacou que, nas discussões que começam a ser
travadas nesse momento a respeito da reforma da Previdência, o ideal seria ir
além das questões puramente paramétricas, debatendo-se não de maneira pontual
mas sim de forma mais ampla o próprio modelo previdenciário, mas reconheceu que
as atuais condições políticas dificultam este desejável debate, mas
continuaremos a defender proposta mais arrojada. Mesmo assim a Abrappentende
ser necessária a reforma, mesmo que paramétrica, sem prejuízo de ajustes.
Entretanto, chamamos a atenção do Deputado para algo que de
fato nos preocupa. É a redação que se quer dar ao artigo 40, parágrafo 15,
abrindo para a previdência de seguradoras e bancos a possibilidade de também
atender ao regime complementar dos servidores, algo hoje exclusivo das
entidades fechadas. Deixamos claro que nada temos contra que se estabeleça uma
competição, mas alertamos para o fato de que atualmente abertas e fechadas
competem desigualmente, já que as primeiras recebem um tratamento que não é
dado ao nosso sistema. Assim, é preciso que haja em primeiro lugar igualdade de
condições na partida, para garantir que o mercado seja disputado em igualdade
de condições.
Além disso, o parlamentar foi alertado que a nova redação do
artigo 40, parágrafo 15, parece entrar em conflito com o artigo 202 da
Constituição Federal, que reserva a previdência complementar dos servidores
para as entidades fechadas.
Ressaltamos também na conversa com o Deputado que, atualmente, os quase R$ 800 bilhões em ativos sob gestão pelos fundos de pensão
brasileiros representam uma fatia ao redor de 13% do PIB nacional. Se
adequadamente fomentado, esse valor poderá chegar em não muito tempo aos 25%. É
possível atingirmos R$ 2 trilhões no espaço de não muito mais que uma
década. O Deputado Arthur Maia (PPS-BA) mostrou-se o tempo todo
interessado, reagindo positivamente às nossas observações e antecipando o seu
desejo de estreitar os contatos.
Diário dos Fundos de Pensão