O governo Temer jogou todas as suas fichas para
tentar aprovar sua nova e mais enxuta reforma da Previdência antes do recesso
parlamentar do dia 20, mas, nesta quarta (13) ao menos parte de suas lideranças no Congresso parece ter
jogado a toalha.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá
(PMDB-RR), anunciou que a decisão de adiar a votação
para fevereiro não e uma derrota e que ela foi tomada por causa do baixo quórum
em Brasília que deve haver na semana que vem. Ele tenta argumentar que
politicamente faz pouca diferença entre votar a Previdência em dezembro ou
fevereiro. E o que importa é que o apoio à reforma está subindo. Cita a decisão
do PSDB de fechar a favor da reforma como um sinal dessa "construção"
e que esse trabalho continuará.
As portas para aprovar a reforma de fato não estão
inteiramente fechadas. Mas, se for confirmado o anúncio do adiamento, as
chances de o governo conseguir aprovar sua proposta acabaram de cair ainda
mais. E nós, na Eurasia, já estávamos avaliando sua aprovação como improvável.
A primeira e mais evidente razão para pessimismo
provém da proximidade da eleição de 2018. Brasília já está tomada com
especulações de quem será candidato a presidente no ano que vem, e
parlamentares já estão cada vez mais focados nas suas respectivas chances
eleitorais. Esse ambiente só vai se intensificar em fevereiro.
Mas a maior razão para pessimismo provém do fato
que o governo jogou todas as suas fichas para aprovar sua proposta em dezembro
e fracassou. Lideranças do governo não só argumentaram com sua base aliada que
o custo político econômico de não aprovar a sua reforma pode ser grande como
utilizaram todas as promessas de cargos e verbas para angariar apoio. O fato de
que esse esforço não gerou resultados pode ser visto como um sinal forte de que
o tamanho da resistência entre a base aliada permanece grande. Em outras
palavras, talvez o problema não seja tempo, mas o fato que o número de
parlamentares na base que estão fixos na coluna do "não" seja grande
demais para chegar a 308 votos. Nas contas da Eurasia, achamos difícil o governo conseguir mais que 287 votos.
Da para reverter esse quadro? Sim, mas agora está
mais difícil. Tudo depende no jogo de comunicação política. Para reverter o
votos firmes contrários à reforma, o governo terá que ter mais êxito na sua
estratégia de empacotá-la como uma maneira de combater privilégios (finalmente
uma mensagem vencedora), e o parlamentar terá que ver o respaldo desse esforço
nas pesquisas de opinião.
Pesquisas têm mostrado que a resistência à reforma
tem caído, mas não de forma dramática. Logo, a única maneira que o governo terá
para reverter o quadro é convencer o parlamentar de que a opinião pública não
mais rejeita a proposta. E possível, mas muito difícil. Reverter esse quadro no
fim do ano, com o Congresso em recesso e festas, não será fácil. O tempo é
curto. Parece mesmo que a reforma ficará para o próximo governo.
Christopher Garman - diretor-executivo para
as Américas da consultoria Eurasia, artigo jornal FSP
jornal FSP