Em
cenários de instabilidade e crise em diversos campos, a realização e o uso de
estudos de ALM, sigla que serve para denominar o Asset Liability Management, têm
se transformado em uma importante ferramenta de gestão dos planos de
benefícios. A criação de um grupo técnico de trabalho (GT) de ALM na Funcef
ilustra bem a necessidade de busca do casamento entre os ativos e o passivo das
entidades.
A
entidade patrocinada pela Caixa Econômica Federal, a terceira maior do país em
patrimônio, implantou um grupo de caráter permanente no final do primeiro
trimestre deste ano. O grupo funciona como um comitê de gestão integrada e
conta com a presença de profissionais das diretorias de benefícios,
participações, planejamento e investimentos, além de representante da
presidência da entidade.
“A
Fundação percebeu a necessidade de uma discussão mais aprofundada sobre o tema,
integrando em um mesmo grupo profissionais das áreas de contabilidade,
risco, investimento e atuária”, conta Salete Cavalcanti, Consultora da
Presidência da Funcef e membro do GT Técnico. Ela explica que o foco inicial do
grupo é a análise das premissas que norteiam os parâmetros de risco, retorno e taxas
de juros do modelo utilizado, que auxiliarão na elaboração de uma nova política
de investimentos dos planos de benefícios.
“O foco
atual é o estabelecimento de um processo mais sinérgico entre as áreas
envolvidas, observando as oportunidades de melhoria em prol de um resultado de
ALM com números confiáveis e condizentes com o real apetite de risco e
necessidade de retorno”, explica Salete. O grupo está realizando uma releitura
do modelo atual, procurando identificar suas deficiências para em seguida
apontar as mudanças necessárias.
Reversão
do déficit -O grupo técnico já começou a discutir ações para auxiliar na
reversão do déficit atual do plano REG/REPLAN, bem como de evitar
desequilíbrios futuros. Além de apontar mudanças na política de investimentos,
algumas ações propostas pelo GT estão vinculadas a ações na Justiça e
precificação do passivo do plano.
“O
trabalho auxilia na reversão do déficit na medida em que possa oferecer
subsídios para a definição de premissas de risco e retorno condizentes com a realidade
de mercado e das carteiras da FUNCEF. Além disso, pode trazer à tona a
identificação de passivos ocultos, como é o caso do contencioso judicial”,
complementa a Consultora da Presidência da Funcef.
A
implantação do GT de ALM está inserido no contexto do novo modelo de governança
corporativa adotado pela Funcef. O modelo conta com a consultoria de uma
empresa externa. A consultoria está auxiliando na elaboração de um diagnóstico
do modelo organizacional que tem o objetivo de criar um Plano de Ação mais
amplo com propostas de modernização e reestruturação da entidade.
Modelo
LDI – Outra entidade que utiliza modelo de casamento de ativo com
passivo é a Embraerprev. No caso da entidade patrocinada pela Embraer, a
utilização do modelo é mais antiga, desde 2013, e leva o nome de Liability
Driven Investments – cuja sigla é LDI. “É um modelo similar ao ALM, mas tem um
nível maior de precisão”, diz Eléu Magno Baccon, Diretor Superintendente da
Embraerprev.
O modelo
foi implantado após os resultados negativos dos investimentos alcançados no ano
de 2012. Naquele ano, o retorno das cotas foi negativo inclusive para o perfil
mais conservador do plano de contribuição definida (CD). “No final de 2013
decidimos optar pela marcação parcial dos ativos a vencimento para reduzir a
volatilidade e proteger a carteira”, lembra Baccon.
Para
definir com maior exatidão qual a parcela que poderia ser marcada na “curva” (a
vencimento) foi contratado o estudo de LDI. “O objetivo do estudo foi definir a
liquidez necessária da carteira de investimentos para fazer frente às
necessidades de pagamentos e resgates”, explica o Diretor. Ele comenta que o
modelo foi muito importante para definir liquidez em face do aumento do número
de assistidos verificado nos últimos meses.
A Embraerprev registrou aumento de 350 do início de 2016 para cerca de
1200 assistidos na metade de 2017 em virtude de um plano de incentivo à
aposentadoria da patrocinadora. “O estudo de LDI nos ajudou a nos preparar para
reduzir a volatilidade dos planos, ao mesmo tempo que deixamos uma parte
líquida da carteira de renda fixa”, diz. Essa parte mais líquida corresponde
atualmente a 20% da renda fixa que utiliza a marcação dos ativos a mercado.
Outros 80% dos ativos de renda fixa estão marcado na “curva”.
Diário da Previdência Complementar