Por que as novas tecnologias não estão nos tornando
mais produtivos?
Inovações como a
computação em nuvem e a inteligência artificial até agora não tiveram efeitos
amplos sobre a economia
Por muitos anos,
as grandes empresas americanas acreditaram
firmemente em que a computação em nuvem e a inteligência artificial alimentariam uma
disparada na produtividade e, assim, na criação de riqueza.
Essa convicção justificou
um dilúvio de investimentos pelo setor de capital para empreendimentos, e de
gastos pelas empresas.
E os resultados, insistem os proponentes, não ficarão
confinados a um pequeno grupo de gigantes da tecnologia, mas se farão sentir em
toda a economia.
Nada disso
aconteceu até agora.
A produtividade,
definida como o valor de bens e serviços produzidos por hora de trabalho, caiu
acentuadamente no primeiro trimestre deste ano, anunciou este mês o governo dos
Estados Unidos.
Os números trimestrais costumam ser voláteis, mas o relatório
pareceu destruir as esperanças anteriores de que uma retomada no crescimento da
produtividade enfim tinha chegado, ajudada pelo investimento acelerado em tecnologias digitais durante a pandemia.
O crescimento da
produtividade desde que a pandemia surgiu está agora em cerca de 1% ao ano, o
que se alinha à média medíocre prevalecente desde 2010 –e fica bem abaixo do
último período de melhora robusta na produtividade, entre 1996 e 2004, quando
seu crescimento foi de mais de 3% ao ano.
Economias crescem não só ao adicionar mais capital e mais mão
de obra.
Outro ingrediente vital é a competência de um país em criar e
comercializar inovação, o que torna o investimento e os trabalhadores mais
produtivos.
Ganhos percentuais
aparentemente pequenos em produtividade podem fazer grande diferença para a
riqueza e o padrão de vida de um país, ao longo do tempo.
Um avanço anual de 1%
adicional na produtividade, por alguns anos –digamos até 2024–, geraria renda per
capita adicional de US$ 3.500 para os americanos, estimou a consultoria
McKinsey em um relatório no ano passado.
O avanço anual
médio de 3,8% na produtividade, entre 1948 e 1972, foi o propulsor da
prosperidade dos Estados Unidos no pós-guerra.
O enigma atual com
relação à produtividade é tema de debate vigoroso entre os economistas. Robert
Gordon, economista da Universidade Northwestern, é um dos analistas mais
céticos com relação à nova tecnologia.
A inteligência
artificial atual, ele disse, é basicamente uma tecnologia de reconhecimento de
padrões, e vasculha vastos repositórios de palavras, imagens e números.
Suas
façanhas, segundo Gordon, são "impressionantes, mas não
transformadoras", ao contrário, por exemplo, da energia elétrica e do
motor de combustão interna.
Erik Brynjolfsson,
diretor do Laboratório de Economia Digital da Universidade Stanford, é o líder
no campo dos otimistas.
Ele confessa se sentir um tanto desapontado por a
elevação da produtividade ainda não ter se confirmado, mas está convencido de
que é só questão de tempo.
"Há mudanças
reais acontecendo. Um maremoto de transformação está em curso", disse
Brynjolfsson. "Estamos vendo mais e mais provas concretas".
THE NEW YORK TIMES