Se tivesse
acompanhado, taxa seria cerca de um terço a menos do que hoje, diz estudo. Se
tivesse respondido à queda dos juros básicos e ao recuo da inadimplência como
no passado, a taxa média dos empréstimos ao consumidor no Brasil seria hoje
37,6% ao ano, 20 pontos percentuais abaixo dos 57,7% efetivamente cobrados em
média.
Segundo o
banco UBS, o descolamento ocorre a partir de 2014, quando o país entrou em
recessão. Daí em diante as duas variáveis consideradas cruciais para entender a
dinâmica do crédito à pessoa física —o nível de calotes nos empréstimos e as
oscilações do juro básico— deixam de explicar o comportamento das taxas ao
consumidor.
"É
brutal a diferença entre o que o modelo indica o que deveria ser a taxa
cobrada, se ela tivesse se comportado como no passado, e o que ela é
efetivamente", diz Tony Volpon, economista-chefe do UBS e ex-diretor do
Banco Central.
O
enigma da baixa reação dos juros à significativa queda recente da taxa Selic,
quantificado por Volpon, está no centro do debate econômico nos últimos meses.
Segundo
especialistas, a criação do cadastro positivo (a lista dos bons pagadores, em
análise no Congresso) seria um passo importante na queda dos spreads, assim
como a entrada de novos concorrentes no sistema, como cooperativas e startups
financeiras.
Por
meio da associação do setor, a Febraban, os bancos dizem que o recuo do spread
depende da redução do custo da inadimplência —não só dos calotes, mas dos
custos associados à cobrança de dívidas e recuperação de garantias—, de custos
operacionais (entre eles o trabalhista), tributários e regulatórios, e também
dos lucros dos bancos. "A Selic afeta apenas indiretamente esses
custos".
Os
bancos dizem ainda que as taxas de juros dos empréstimos têm caído
efetivamente. Nos recursos livres, a taxa, hoje em 57,7%, chegou a 74,33% em
outubro de 2016.
O
economista Edmar Bacha resume o imbróglio. "Como os preços dos carros e as
contas dos celulares, os spreads bancários são mais um exemplo de nossos preços
surreais".
FOLHA DE SÃO PAULO