Perdas e ganhos dos planos de saúde.
Mensalidades devem
ter aumentos, pois sistema funciona em regime de mutualismo.
Se já está difícil
pagar um plano de saúde, prepare-se: a situação pode piorar.
Embora neste ano a
saúde suplementar deva atingir 51,5 milhões de usuários, recorde histórico, as
mensalidades não têm sido suficientes para sustentar as despesas.
"Desde abril
de 2021, o negócio de plano de saúde não consegue se pagar", escreveu Vera
Valente, diretora-executiva da Fenasaúde (Federação Nacional de Saúde
Suplementar), em artigo recente.
Em 2022, até
setembro, o rombo somava R$ 11 bilhões.
A taxa de sinistralidade (relação entre
o valor pago pelos usuários e o custo dos procedimentos) bateu em 93%, maior
percentual desde a regulação do setor no país, há 24 anos.
Vários fatores
contribuem para isso, entre eles aumento das cirurgias eletivas represadas na
pandemia de Covid, novos tratamentos, alta do custo de medicações, insumos e
tecnologias (cotados em dólar) e fraudes.
Sob pressão, as
operadoras têm postergado pagamentos aos prestadores de serviços, estendendo
prazos e pagando esses serviços abaixo da inflação.
Os usuários também sentem o
impacto, refletido em redução de cobertura, demora no reembolso de despesas e
reajustes abusivos.
Neste mês, um novo
elemento deixou os planos em polvorosa: o Zolgensma (Novartis), medicamento para a
atrofia muscular espinhal (AME) tipo 1, entrou no rol de cobertura obrigatória
da Agência Nacional de Saúde Suplementar. Apelidado de "remédio mais caro
do mundo", o produto custa R$ 7,2 milhões por paciente aos planos.
Segundo a
Fenasaúde, 25% das operadoras de pequeno porte, com até 20 mil vidas, não
faturam esse valor no ano, o que seria uma ameaça à sua sustentabilidade; sem
contar que haverá aumento nas mensalidades, pois o sistema funciona em regime
de mutualismo.
A saída, claro, não
é vetar ou dificultar o acesso a novas tecnologias que podem salvar vidas ou
melhorar a de quem convive com doenças graves.
Ao incorporar o
Zolgensma ao SUS, em dezembro, o Ministério da Saúde acordou com a Novartis que
só pagará o valor integral do remédio (R$ 5,7 milhões) se o tratamento surtir
efeito positivo.
A primeira parcela,
de 20%, é paga no momento da aplicação, que é em dose única.
O pagamento das
outras quatro parcelas, também de 20%, é atrelado à eficácia da terapia.
O compartilhamento
de riscos com as farmacêuticas tem sido adotado por vários países e é uma forma
de garantir o acesso a tratamentos inovadores e também dar maior
previsibilidade orçamentária.
Mais do que isso: é
uma maneira de avaliar na vida real dos pacientes a efetividade das novas
tecnologias. Elas valem de fato o quanto custam?
FOLHA DE SÃO PAULO