A
flexibilidade dos fundos multimercados, cujas possibilidades de alocação
permitem combinar risco e retorno dos diversos ativos, tende a fazer com que
esse tipo de veículo cresça nas carteiras dos fundos de pensão este ano. Diante
do cenário de incertezas políticas e macroeconômicas domésticas, somadas ao
fator político de instabilidade global representado pelo novo presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, a aposta local na retomada da atividade
ainda não dá segurança para investimentos de maior risco. Apesar dessa alta
volatilidade que deve continuar marcando a conjuntura dos mercados, o espaço
para a redução da taxa básica de juros no Brasil cria uma evidente lacuna de
produtos que permitam aos fundos de pensão buscar uma rentabilidade futura mais
compatível com as metas de seus planos de benefício.
Nesse
ambiente, o apetite ao risco deverá voltar gradualmente, à medida em que o juro
pago pelos títulos públicos ficar menos compensador. E os multimercados
aparecem aos olhos de especialistas ouvidos pelo Diário como uma das
alternativas mais adequadas para os fundos de pensão, desde que as estratégias
e táticas de alocação sejam muito bem definidas, alertam os especialistas.
Essa
categoria teve performance muito boa em 2016 e alguns deles já vinham
apresentando retornos favoráveis em 2015, lembra o consultor da Aditus,
Guilherme Benites. Ele observa que ainda há multimercados com bons desempenhos
e que estão abertos em 2017. “Além disso, a expectativa do juro real atrelado à
variação do CDI é bem elevada, então esses são dois fatores positivos para que
os fundos de pensão invistam mais em multimercados”, aponta Benites.
Entretanto, vale lembrar que as condições que permitiram altos retornos em 2016
não são exatamente reproduzíveis este ano, no que diz respeito à parcela de
títulos públicos pré-fixados. “O movimento de moeda que aconteceu em 2015 e
garantiu ganhos por conta da variação cambial também não deve se repetir agora,
então é importante notar que as condições não serão iguais, até porque a
eleição nos EUA vai adicionar ainda mais volatilidade aos mercados”.
Gestão
ativa em CDI - A perspectiva de crescimento dos multimercados
nas carteiras das EFPCs é bastante favorável em 2017, acredita também a
consultora da TAG Investimentos, Francisca Brasileiro: “Em períodos de maior
volatilidade essa é uma alternativa particularmente interessante porque, além
de alocar em várias classes de ativos, conta com bons gestores que têm conseguido
capturar os eventos que afetam os mercados e traduzi-los em performance”.
Este ano pode haver uma redução expressiva do juro, afetando fortemente o
retorno das NTN-Bs.
Num
cenário positivo de rentabilidade, o multimercado faz sentido como alternativa
para a parcela de títulos pós-fixados atrelados ao CDI, enfatiza a consultora.
Uma gestão um pouco mais ativa nessa parte da carteira poderá trazer resultados
significativos. “Será preciso, entretanto, verificar muito bem qual a melhor
“caixinha” dos multimercados escolhidos, suas estratégias de alocação, para
buscar essa gestão ativa no pós-fixado”.
Os
melhores instrumentos para isso costumam ser os ativos de crédito e os
multimercados mas, como o mercado de crédito ainda está muito difícil devido a
situação das empresas, os multimercados surgem como um caminho natural.
Principalmente porque o risco do mercado acionário ainda deve demorar um
pouco a atrair os gestores das entidades, lembra Francisca: “Os
investimentos dos fundos de pensão em renda variável ainda estão abaixo do
ponto de vista neutro, e tenderão a ser mais ativos em relação a esse risco
apenas quando começarem a surgir dados positivos do crescimento do PIB”.
Realocação
- As NTN-Bs continuam predominando nos investimentos das EFPCs
e a tendência é de que os ganhos com esses títulos ainda permitam resultados
relevantes no primeiro semestre, mas o fechamento das taxas de juros trará a
necessidade de realocar recursos. “A saída das NTN-Bs em 2017 será necessária
para assegurar rentabilidade, é preciso acreditar que o Brasil dará certo e que
a taxa de juro continuará caindo”, afirma o diretor de Administração e
Finanças da Fachesf, Luiz da Penha. Os fundos de pensão não podem perder
oportunidades nesse movimento de realocação, mas há também o risco de que
se repita o passado, observa o diretor. “Tivemos um movimento de queda do juro
que acabou sendo revertido e quem apostou na manutenção do juro baixo por um
período maior de tempo não se deu muito bem”.
O balanço
entre essas duas variáveis deverá ser feito com muita cautela. “ É preciso
cuidado nas decisões de realocação; os multimercados, os investimentos no
exterior e até mesmo os multimercados no exterior podem ser uma alternativa
interessante de diversificação neste momento”, acredita Luiz da Penha. A
Fachesf estuda as opções para sua carteira de investimentos estruturados que,
por enquanto, só tem FIPs e fundos imobiliários. “No primeiro trimestre ainda
será possível surfar nas taxas das NTN-Bs e um pouco de bolsa se a reforma da
previdência for aprovada mas, a partir do momento em que o juro chegar ao seu
ponto mínimo, talvez seja tarde demais para aproveitar oportunidades, então
estamos avaliando agora as possibilidades de aplicar em multimercados e
exterior”.
Posições
táticas - Análise rigorosa de oportunidades é o que orienta também
as decisões de investimento da Fibra, explica seu gerente financeiro Marcos
Aurélio Litz: “Deixamos de ter fundos multimercados há algum tempo, por
questões de performance, mas essa é uma alternativa que está sempre no nosso
radar”. Tanto é que a fundação preparou uma análise interna do desempenho
histórico desses fundos e de suas características, tamanho e histórico de
atividade, para avaliar o que eles podem oferecer. A avaliação levou em
conta o resultado ano a ano e no acumulado de até 36 meses e concluiu que há
muito poucos desses fundos disponíveis e que realmente tenham oferecido
performances substanciais acima do CDI.
“O
retorno acima do CDI vai caindo muito à medida que se filtra por tamanho
do gestor e retorno acumulado, é possível verificar que ele ficou abaixo do que
poderia ter conseguido. A quantidade de fundos que sobra fora desse quadro é
muito reduzida”, explica Litz. Apenas 26 fundos conseguiram retorno
superior a 105% do CDI, os que atingiram mais de 130% do CDI foram apenas 18 e
um número muito menor, de apenas seis fundos, conseguiu esse resultado na
análise ano a ano. “Isso mostra que é preciso cautela porque às vezes o fundo
agrega um risco razoável para um retorno tímido”, destaca Litz. Para contornar
essa realidade, a Fibra está analisando fazer operações pontuais e manter
posições táticas em alguns multimercados, com pequenos volumes e muito cuidado
na seleção. “Estudamos fazer isso com base no cenário dos mercados e na
estratégia do fundo, a alocação tática é a melhor alternativa neste cenário de
pouco crescimento e desafios na área política”.
Riscos e
dinamismo - Além do benefício da diversificação, observa Benites, a
grande vantagem dos multimercados está na possibilidade de verificar o quanto
de risco essa categoria agrega à carteira, certamente bem menor do que seria na
renda variável. E o principal risco em 2017 será justamente, na opinião do
consultor, o comportamento da bolsa brasileira. “As NTN-Bs marcadas a mercado
já foram um risco importante mas hoje não são mais porque os fundos de
pensão passaram a ter muitos títulos desses marcados na curva, então o foco de
risco este ano será mesmo a bolsa”.
O
dinamismo dos gestores de multimercados será fundamental para explorar as
oportunidades dos diversos ativos num ano em que ainda haverá muitas
incertezas, diz Francisca Brasileiro. Para ela, o maior risco estará no câmbio,
variável que tem feito gestores experientes apanharem bastante: “Por conta
disso, o dinamismo da gestão para se apropriar dos movimentos cambiais como uma
classe de ativos será essencial”.
Diário dos Fundos de Pensão