“O que o nosso sistema ainda demanda
de aprimoramentos legais?”, a pergunta foi feita ontem pelo Presidente da
Abrapp, José Ribeiro Pena Neto, moderador do painel sobre o tema “O Novo
Paradigma de Governança nas EFPCs: Um Olhar Jurídico”, a cada um dos
expositores. Mas ele não se furtou a dar a sua resposta, como ao observar que
visão a esse respeito cada um tem a sua e todas são muito bem vindas, uma vez
que importa agora debater, como se fazia ali no segundo dia do 11º Encontro
Nacional de Advogados das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (11º
ENAPC ), num debate marcado pela certeza de que nos últimos meses a discussão
se enriqueceu com importantes contribuições, como propostas que vieram da CPI
da Câmara e das muitas sugestões que a Abrapp apresentou. Disso resultou a
convicção ainda maior, completou José Ribeiro, de que “temos nas leis
complementares 109 e 108 sólidos alicerces e a partir deles construímos um
sistema forte”.
Dessa solidez ninguém dúvida. O
problema, e isso é igualmente objeto de reconhecimento geral, está em voltar a
crescer, deixar de administrar o estoque. Essa verdade ficou claramente
estampada ante-ontem em diferentes momentos ainda no primeiro dia do 11º ENAPC,
já no primeiro painel voltado para a “Reforma da Previdência: Oportunidades e
Impactos na Previdência Complementar”. Um dos expositores, o advogado Adacir
Reis, do Escritório Reis, Torres, Florêncio, Corrêa, Oliveira Advocacia, foi
taxativo: “precisamos nos reinventar”. Algo na mesma linha o Diretor Jurídico
da Abrapp, Luis Ricardo Marcondes Martins, já havia dito naquele mesmo dia, ao
abrir o evento, quando afirmou “termos muito do que nos orgulhar, mas a verdade
é que o produto está envelhecendo e precisamos inovar”.
Realidade dinâmica - Reis notou que o
modelo de previdência complementar desenvolvido nos anos 70 e nas duas décadas
que se seguiram encontra menos espaço hoje, numa realidade muito mais dinâmica
e com mais opções. “Lá no passado as pessoas ingressavam nas empresas e já
entravam quase que compulsoriamente em planos de desenho tradicional. Nos dias
atuais o problema é encontrar formas de falar a um jovem acostumado a
aplicativos”, continuou Reis, que entende ser o melhor caminho apostar a
previdencia complementar em uma reforma mais ampla da Previdência Social,
de maneira a conquistar mais espaço. Algo no espírito que o Presidente José
Ribeiro defende quando fala “na busca de um novo modelo”. Nele, caberia
inclusive uma vertente capitalizada na previdência estatal redesenhada para atender
apenas à população de menor renda, talvez no limite de dois a três salários
mínimos.
No mesmo painel, Nilton Molina,
Presidente do Conselho de Administração da Mongeral Aegon Seguros e
Previdência, sublinhou a insustentabilidade do atual modelo. Ele citou vários
números, todos confirmando que o Brasil gasta com benefícios previdenciários
muito mais do que outras nações com perfil igual ou semelhante. “O Brasil é
definitivamente um ponto fora da curva em matéria de despesas com Previdência
sobre o PIB”, salientou, chamando a atenção para o fato de não ser sustentável
uma aposentadoria concedida em média aos 54 anos, paga depois disso a pessoas
que vão viver mais 20 ou 30 anos.
Difícil de negociar - Molina,
entretanto, disse não acreditar que uma verdadeira reforma seja negociável no
Brasil, considerando as resistências políticas encontradas. No seu modo de ver,
“a porta de saída parece estar mais no desenho de uma nova previdência social,
com novas regras aplicáveis às pessoas nascidas a partir do ano 2000 e hoje,
portanto, a ponto de ingressar no mercado de trabalho. Incluir as gerações
anteriores desde já no novo modelo seria muito difícil de obter e estas
poderiam ser atraídas depois mediante incentivos. É na verdade a única forma de
começar”, finaliza Molina.
Atrair as novas gerações está longe de
ser uma tarefa fácil. Atuando como mediador nesse primeiro painel, Devanir
Silva, Superintendente-geral da Abrapp, forneceu uma longa série de números
mostrando a dificuldade cada vez maior de financiar a Previdência Social e os
regimes próprios, onde as prefeituras dispõe atualmente de menos de 4% de
reservas para fazer frente aos compromissos assumidos, para ficar no exemplo
mais dramático, mas não menos difícil, disse ele, é encontrar meios de falar
atraindo os jovens. Devanir trouxe pesquisa onde se mostra que 61% dos
integrantes da “Geração Y” (nascidos a partir de 1980 até a metade da década
seguinte) se sentem pouco ou nada informados quando o assunto é previdência.
Outro expositor, Daniel Pulino, professor
de Direito da PUC-SP e Procurador no Escritório da Previc em São Paulo,
falou de sua experiência como integrante de um grupo de trabalho do
governo que estuda pontos da reforma da Previdência. Pouco antes, Devanir
Silva, ao abrir o painel já havia exemplificado as dificuldades que o País
encontra ao tentar avançar no debate do tema, lembrando que a grande maioria
dos países que integram a OCDE (Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico) já vem fazendo ajustes nas regras de suas previdências,
especialmente aquelas que dizem respeito à concessão do benefício, enquanto o
Brasil ainda aguarda.
7 eixos - Pulino explicou que o
governo tenta avançar no debate através de 7 eixos: idade da aposentadoria,
mais rigor nos benefícios rurais, previdência complementar para os
servidores, restringir a pensão por morte, equalizar as normas para homens e
mulheres, fazer convergir os de regimes e tratamento dos direitos
adquiridos.
No entender de Pulino, cujo pensamento
se aproxima bastante do defendido por Molina, os ajustes devem se voltar para o
futuro, mais para quem está ingressando agora no mercado de trabalho, de
maneira a vencer as resistências.
O
evento, encerrado ontem e que reuniu mais de 300 advogados e dirigentes em seus
dois dias de duração, teve como patrocinadores os escritórios Bocater,
Camargo, Costa e Silva, Rodrigues Advogados; BTH; Caldeira, Lobo e Ottoni; Cruz
de Oliveira Advogados; JCMB; L.A.Machado; Lobo e Ibeas Advogados; MML -
Messina, Martins e Lencioni Advogados Associados; Pagliarini e Morales
Advogados Associados; Raeffray Brugioni Advogados; Reis, Torres, Florêncio,
Corrêa, Oliveira Advocacia; SRG-Sales, Rodrigues Guerra Advogados Associados; e
Zamari e Marcondes Advogados Associados.
Diário dos Fundos de Pensão